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segunda-feira, 22 de março de 2010

Valter Pomar: Contra-ofensiva de direita na América Latina

Do Prensa Latina

Uma contra-ofensiva da direita põe em xeque o futuro da América Latina, essa é a tese do brasileiro Valter Pomar, dirigente do Partido dos Trabalhadores (PT), um reconhecido estudioso do tema. “Ninguém poderia predizer o desenlace deste conflito, o que ocorra dependerá de nós mesmos e o dilema está claro: ou vencemos ou deixamos de ser”, disse o político sul-americano em entrevista à Prensa Latina, durante a realização do 19º Seminário Internacional “Os Partidos e uma Nova Sociedade”, no México.

Na opinião de Pomar, o principal problema da região continua sendo sua relação com Estados Unidos, “uma potência disposta a recuperar a hegemonia em seu histórico quintal, os países latino-americanos, para lançar-se sobre o resto do mundo”.

Com a dissolução da União Soviética no início da década de 1990, o conjunto do movimento socialista entrou em uma etapa defensiva e impôs-se o unilateralismo estadunidense; uma realidade que em essência continua vigente, segundo opinou o analista.

A situação começou a mudar pela ascensão de governos de esquerda na América Latina e pela agudização da crise internacional; no entanto, nenhum destes acontecimentos conseguiu mudar a natureza do período em favor do imperialismo, segundo precisou o secretário de Relações Internacionais do PT.

Apesar da profundidade da crise mundial, em diferentes âmbitos, desde o econômico e financeiro até o energético, os grandes Estados capitalistas puderam evitar os transbordamentos político-sociais em seus territórios; isto, comentou, nos assinala o poderio de que falo.

Outra evidência radica na contra-ofensiva da direita latino-americana, alinhada com a Casa Branca, e “o único freio viável que a América Latina pode colocar nesses planos é a integração”, avaliou o especialista.

Nos últimos tempos, considerou, as forças de esquerda tiveram um rápido crescimento na área devido a processos endógenos associados à crise neoliberal, mas também não podemos desconhecer que os Estados Unidos durante estes anos centrou seu olhar nas guerras de conquista no Oriente Médio.

“Isso nos facilitou a vida, nos permitiu fazer uma acumulação rápida de forças contra o projeto imperialista; mas o palco tem mudado, ressurgem governos de direita e a administração norte-americana busca com afã minar a integração com vocação latino-americanista.”

Não tem lugar – agregou – uma reestruturação da direita apenas no continente americano; ocorre o mesmo dentro da Europa, onde as tendências dessa natureza tiveram um auge e também tratam de impedir o rumo independente e integracionista de nossa região.

Com a posse de Barack Obama, ao invés do que muitos pensaram, a Casa Branca confirmou o propósito de reconquistar sua hegemonia mundial, segundo defendeu então o novo mandatário – recordou o representante do PT.

“Esse propósito declarado torna-se mais urgente para Washington diante da gravidade da crise econômica internacional e nisto não podemos perder de vista que, para recuperar seu poderio, a potência do norte precisa primeiro restabelecer um papel em nossa região.”

O império, insistiu, não pode se lançar sozinho em seu plano de hegemonia unilateral no mundo, precisa da América Latina e do Caribe subordinados a sua política; daí a importância de não ceder nem um grão na acumulação de forças revolucionárias no interior de nossos países.

“Também não podemos retroceder no processo de integração que pela primeira vez se expressa no surgimento de uma organização autenticamente latino-americana e caribenha, sem os Estados Unidos e sem as antigas metrópoles européias”, afirmou.

A questão prática, advertiu, está em como conseguiremos acelerar a unidade e persistir no caminho das mudanças estruturais sem ir para além de nossa capacidade para sustentar politicamente os processos e acumular forças em escala regional na direção do socialismo.

“Os perigos são enormes; mas se mantivermos a atual correlação, a ingerência estadunidense será limitada; ainda que inevitável, dada a natureza do império e o apoio de alguns governos”, observou Pomar.

“Por isso é tão importante avançar com rapidez, mas sem cometer erros, na integração continental e ao mesmo tempo consolidar onde seja possível as políticas nacionais que implicam no desmantelamento do neoliberalismo e em uma melhor vida para a gente.”

“A América Latina está em uma encruzilhada: ou salva-se com o empenho de seus filhos, ou afunda-se subordinada ao império. E o que aconteça neste continente será decisivo para a emancipação dos demais povos no mundo”.

Fonte: http://pagina13.org.br/?p=1158