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segunda-feira, 8 de novembro de 2010

No Pagina13

Grata surpresa teve este blogueiro com a publicação do texto "Eleições 2010 na Paraíba: e agora PT? É preciso saber dizer não" no sítio http://www.pagina13.org.br/ da Articulação de Esquerda, tendência interna do PT, em âmbito nacional. Eis o link: http://pagina13.org.br/?p=4956

sábado, 6 de novembro de 2010

Eleições 2010 na Paraíba: e agora PT? É preciso saber dizer não

Mesmo estando aparentemente enfraquecido, depois da cassação do ex-governador Cássio Cunha Lima por abuso de poder econômico, o PSDB/DEM conseguiu derrotar a base aliada do governo Lula, na Paraíba. A eleição de Ricardo Coutinho (PSB) não é uma vitória de seu partido, que não conseguiu eleger sequer um deputado federal. A sua vitória no segundo turno se deve ao seu crescimento nos pequenos municípios e ao acachapante resultado em Campina Grande, onde José Serra foi o vencedor. Segundo o próprio Ricardo Coutinho, sem a aliança com o PSDB ele não poderia ser governador. O candidato do PSB foi o candidato de José Serra no Estado.

Por outro lado, a aliança do PT com o PMDB foi um movimento correto. O PT não saiu de onde estava desde o segundo turno de 2002, quem saiu foi o PSB. A prioridade do PT na Paraíba era o fortalecimento da campanha da companheira Dilma Rousseff e o enfraquecimento dos neoliberais do PSDB/DEM, os principais adversários de nosso projeto nacional. Pragmaticamente, o PSDB/DEM percebeu que a melhor maneira de derrotar a base aliada do presidente Lula seria causando uma divisão em seu meio. Foram seis desastrosos anos de governo de Cássio Cunha Lima (PSDB) nos quais a Paraíba perdeu recursos do Prodetur por falta de elaboração de projeto, no quais os 12% de investimento na saúde não eram observados e nos quais os servidores precisavam contrair empréstimo num banco privado para receberem seus salários, entre outras coisas. Some-se a isto o desgaste de ter sido cassado no meio de seu segundo mandato. Estando a base do governo Lula unificada, certamente, o PSDB/DEM amargaria mais algum tempo oposição.

Dividindo a base de apoio do governo Lula trazendo o PSB para perto de si, o PSDB/DEM ganhou um discurso progressista, confundiu o eleitorado no que se refere à polarização que existe em nível nacional e evitou a comparação com o período em que estiveram governando o Estado. Com isso, ao invés de olhar para os seis anos inglórios do governo de Cássio Cunha Lima, a Paraíba olhou para os seis anos de Ricardo Coutinho frente à prefeitura de João Pessoa, gestão que contou com o apoio do PMDB e PT e que não seria possível sem o apoio do governo do presidente Lula.

Toda a trajetória de esquerda do candidato Ricardo Coutinho esteve a serviço das candidaturas de Efraim Morais (DEM) e Cássio Cunha Lima (PSDB), que se eleitos senadores estariam fazendo oposição ao PT e ao próprio PSB. O mais importante para Cássio, além de derrotar José Maranhão (PMDB), foi ter retirado de Ricardo Coutinho qualquer traço de autonomia e renovação. Quando não precisarem mais terceirizar seu projeto de poder, o PSDB/DEM terá como desgastar até a inviabilidade quem poderia ser a mais destacada liderança política do Estado.

Neste cenário o PT tem diante de si três tarefas. A primeira é saber assumir a condição de oposição, porque foi assim que saiu das urnas. Onde estiver PSDB/DEM, não pode estar o PT. Deve evitar o casuísmo e adesismos a cargos que lançaria o partido a uma situação de descrédito junto à sua base eleitoral. Ademais, ganhará politicamente quem tiver condições de manter coerência e é uma oposição coerente quem se tornará a referência política em futuras crises provocadas por “cascas de bananas” e “fogo amigo” no bloco PSB/DEM/PSDB.

A segunda tarefa é saber fazer respeitar-se e, para tanto, precisa fazer respeitar o seu estatuto. O PT tinha lado definido, estava na chapa majoritária com o PMDB e é inaceitável que petistas tenham feita campanha contra o partido, junto com o PSDB/DEM. Qualquer filiado ao PT precisa respeitar as deliberações do partido e, caso os escandalosos casos de infidelidade partidária passem incólume, estão comprometidas todas e quaisquer decisões partidárias futuras.

A terceira e última tarefa consiste em preparar-se para o lançamento de futuras candidaturas majoritárias. O PT não pode abrir mão de lançar candidatura à prefeitura de João Pessoa, em 2012, por exemplo. Para tanto, precisa se aproximar e valorizar sua militância e os movimentos sociais que dialogam com nosso projeto. O PT é o partido que mais dispõe de condições para identificar e apontar soluções para os para os problemas mais imediatos enfrentados pela população, seja por anos de experiência do modo petista de governar, seja por sua capacidade de aglutinar massa crítica e, porque, afinal de contas, é o partido que preside o país. Precisa se colocar como real alternativa política no Estado.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Breve análise sobre as eleições 2010 na Paraíba

Terminada a eleição para governo da Paraíba, vencida por Ricardo Coutinho, do bloco PSB/DEM/PSDB, duas afirmações podem ser feitas. A primeira, é que no primeiro turno, a coligação do governador José Maranhão (PMDB/PT/PCdoB), na frente em todas as pesquisas com mais de 50% das intenções de voto, perdeu a eleição para si mesma. A segunda, é que o grande vencedor deste pleito é o PSDB, na pessoa do ex-governador Cássio Cunha Lima.

O governo de José Maranhão, mesmo que reduzido pela metade, já que assumiu apenas em fevereiro de 2009, quando Cássio Cunha Lima é cassado por abuso do poder econômico, não conseguiu diferenciar-se do período 1995-2002 quando governou de acordo com a agenda política de Fernando Henrique Cardoso. O discurso de que o PMDB já tinha tido muito tempo e dizia que faria agora o que não fez em oito anos anteriores teve, então, razoável repercussão.

Ainda em 2002, o PMDB local rompe com o nacional e declara apoio a candidatura do presidente Lula. Quando o PSDB/DEM assumiu o governo em 2002, a Paraíba representava 28% do PIB do Nordeste e, em 2009, ao serem retirados do governo pela Justiça Eleitoral, o Estado tinha regredido para 21% do PIB da região. O cenário era favorável para um crescimento eleitoral do PMDB local pela esquerda, sendo a candidatura do bloco de apoio do presidente Lula, empurrando para a direita a candidatura de Ricardo Coutinho, porém, não foi o que aconteceu.

O terceiro governo de José Maranhão, agora com o PT na vice-governadoria, não foi além da lógica do “governo de engenharia”, buscando ser caracterizado como um governo de obras de infraestrutura. Certamente, são ações importantes, entretanto, a busca de melhoria dos índices sociais, colocando o desenvolvimento humano como elemento central, não se verificou. As propostas de grandes investimentos não foram acompanhadas com iniciativas de fortalecimento da microeconomia que, na Paraíba, gera cerca de 80% dos empregos formais, segundo dados recentes do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, Caged.

O debate sobre segurança pública, por exemplo, acontecia tendo como parâmetro o aumento do poder de repressão da polícia e não enfocava a redução das desigualdades sociais. A área de educação, muito caro ao PT e aos demais partidos de esquerda, ficou extremamente aquém do que se espera de um governo apoiado pelo presidente Lula. A Paraíba conta com 23% de sua população em estado de analfabetismo e não houve nenhuma tentativa de superar essa chaga.

Ao não trazer para si a agenda de desenvolvimento social, o governo do PMDB limitou e reduziu a possibilidade de defesa por parte da militância de esquerda que o apoiava e deixou um espaço a ser ocupado pela candidatura do PSB. O PSB terminou o pleito com 53% dos votos válidos, mas, não conseguiu eleger nenhum deputado federal e apenas 3, entre 36, deputados estaduais. Como a vitória de um partido não eleva seu peso político nas representações legislativas nas mesmas eleições? Simples! Porque o eleitorado não votou no PSB, votou no candidato de Cássio Cunha Lima, do PSDB. Nas palavras do próprio Ricardo Coutinho, sem a aliança com o PSDB ele não poderia se tornar governador. Cássio Cunha Lima foi o coordenador da campanha de Ricardo Coutinho no segundo turno.

No primeiro turno, a campanha do PMDB usou salto 15, entrou no clima do já ganhou. José Maranhão perdeu em cidades governadas por aliados, como em Patos, Cajazeiras e o mais grave, Campina Grande. No segundo turno, a campanha despolitizou-se ainda mais, marcada por preconceitos religiosos e ampliação, pela direita, de seu arco de alianças.

A diferença entre os dois candidatos foi de um pouco mais de 8 mil votos no primeiro turno. Em João Pessoa, Ricardo perdeu 15 mil votos no segundo turno, mas, virou em mais de 100 cidades pequenas onde José Maranhão tinha sido vitorioso em 03 de outubro, trabalho realizado por Cássio Cunha Lima, na ausência de José Maranhão que passou a priorizar os grandes centros.

O PT tem sua parcela de culpa. Primeiro ao não se impor na agenda do governo. O desempenho da esquerda no governo do PMDB seria fundamental para isolar na direita a candidatura do PSDB/DEM, aproximando o governo do Estado à experiência exitosa do governo federal. No processo eleitoral em si, é débito do PT a ausência de Lula e Dilma na Paraíba, que talvez tivessem alterado os rumos da eleição já no primeiro turno. Ainda assim, o partido mostrou força, aumentando a sua bancada na Assembléia Legislativa, com uma militância aguerrida que evitou o crescimento do PSB/DEM/PSDB em alguns setores mais politizados e conseguiu diminuir a rejeição ao PMDB.

Ai que vida boa, ô lerê, ai que vida boa, ô lará!

Faz tão pouco tempo que podemos votar para presidente. Durante mais de vinte anos, depois de um golpe cívico-militar, o Brasil foi governado por uma ditadura. Faz tão pouco tempo que nós podemos conversar sobre política, defender nossas idéias, atuar por elas e em nome delas sem o medo de ser preso, torturado, exilado ou mesmo perder a vida.

Em “Vai passar” Chico Buarque registra a pouca memória dos mais jovens a respeito de um passado de explorações, violências e “tenebrosas transações”. Mas, anuncia a passagem de um samba popular no qual os famintos e retintos dançarão e cantarão “a evolução da liberdade até o dia clarear”.

A partir de janeiro próximo, não apenas seremos governados por uma mulher, o que por si só já um feito histórico em um país tão machista. Mas, seremos governados por uma mulher de esquerda, guerreira, que sabe bem quem são os nossos inimigos, os inimigos da democracia política e social. A futura comandante-em-chefe das Forças Armadas já foi presa e torturada nos quartéis e porões da ditadura. É simplesmente encantador saber que seremos governados por uma mulher que lutou, arriscando a sua própria vida, pelo nosso país e pelo nosso povo.

Hoje, sabemos que a democracia política sem a democracia social é manca. Hoje sabemos que a democracia que queremos não é apenas uma formalidade, mas a construção da igualdade social. Sabemos também que a tentativa de democratização da sociedade sofre feroz oposição daqueles que nunca reclamaram da existência da pobreza, que nunca reclamaram dos preconceitos e explorações que feriam e ainda ferem nosso povo. E, pasmem, estes cínicos reclamam da democratização da sociedade em nome de uma suposta “democracia” bem particular que acha feio tudo o que não é espelho.

Temos muito ainda por fazer. Sabemos que estar no governo federal não é necessariamente está no poder. Os conservadores, a alta burguesia e filhotes da ditadura estão mais vivos que nunca. Os próximos quatros anos serão possivelmente mais tensos e a militância política de cada um de nós será decisiva para que o Brasil e nossa América Latina prossiga mudando. Mas, como é bom lutar pelo o que se acredita! Salve, salve Dilma! Viva os trabalhadores e trabalhadoras do Brasil!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Um vitória suada

Por Wladimir Pomar

A eleição de Dilma Roussef, é evidente, não foi uma vitória decisiva, daquelas que mudam a correlação política de forças e criam as condições para avançar na realização de mudanças mais profundos na sociedade. Foi uma vitória suada. Pelo lado negativo, resultou tanto dos erros de sua campanha no primeiro turno, quanto do fato de que o PT e a esquerda, em geral, abandonaram o trabalho de massas já há algum tempo.

Pelo lado positivo, não há dúvida de que foi uma vitória importante, devida tanto à correção dos rumos da campanha durante o segundo turno, quanto à mobilização de parte considerável da militância de esquerda, que se deu conta de que o “quanto pior melhor”, assim como uma vitória da direita, seria um grave erro e uma derrota estratégica.

Ainda pelo lado positivo, na análise da vitória de Dilma não se pode desprezar o fato de que as camadas populares tomaram partido. Enquanto a classe média rachou, aliás como quase sempre acontece, os proletários e demais setores pobres da população urbana e rural reiteraram sua confiança de que a continuidade das políticas do governo Lula é o que mais lhes interessa. Nesse sentido, a clivagem social continua sendo uma marca característica das três últimas eleições presidenciais no Brasil.

É essa clivagem social que tende a aprofundar o processo de polarização da sociedade brasileira, apesar de uma parte da burguesia nacional e internacional estar se beneficiando, como não poderia deixar de ser, com os programas governamentais de desenvolvimento das forças produtivas do país. A necessidade de aumentar a capacidade produtiva do país, como condição para redistribuir renda e melhorar as condições de vida do conjunto da população, só pode ser realizada com o concurso de diferentes formas de propriedade, como nossa própria história tem mostrado.

O problema, para a burguesia nativa e estrangeira, é que elas não querem a participação da propriedade pública, estatal e sob outras formas, nesse processo. Elas pretendem fazer isso sozinhas. Além disso, mesmo tendo alta lucratividade, elas não querem ter uma parte de seus lucros apropriados pelo Estado para redistribuição aos trabalhadores e aos pobres. Assim, vivem a ambiguidade de serem beneficiadas pelas políticas de crescimento de governos de esquerda e, ao mesmo tempo, se sentirem lesadas dos recursos que consideram seus, mas são “desviados” para programas sociais.

Esse é o mesmo sentimento de parte considerável da classe média, proprietária ou não. Talvez há muito tempo esse setor não esteja em condições financeiras tão boas quanto na atualidade. Apesar disso, acha que poderia estar melhor se o governo não “gastasse tanto dando dinheiro pra pobre e alimentando vagabundo”, como é comum se ouvir em rodas de restaurantes e botecos.

Esses setores são incapazes de enxergar suas diferenças econômicas e sociais com a burguesia, e de que não estão melhores porque é justamente a burguesia que se apropria da maior parte das riquezas geradas pelo trabalho, tanto dos proletários, quanto das próprias classes médias. Em conseqüência, na política, assumem as mesmas reclamações e lamúrias da burguesia, assim como suas propostas. Propostas que, no final, vão se virar também contra as camadas médias.

É com base nisso que, no discurso de reconhecimento da eleição de Dilma, o derrotado Serra não só proclamou uma vitória política das forças que o apoiaram, como prometeu guerra sem quartel pelas liberdades, democracia e pela nação. Ou seja, partindo do pressuposto de obteve sucesso em impedir Lula de transferir toda sua popularidade para a candidata da coalizão dirigida pelo PT, e em conquistar 44% dos votos válidos, Serra se colocou na posição de comandante de uma luta continuada contra o próximo governo.

Talvez seja útil ao PT e à esquerda refletirem sobre o significado dessa postura da direita. Ela pode nos ajudar a aprofundar um debate, mais que necessário, sobre o significado de liberdade, democracia e nação, para a direita e para a esquerda, provavelmente como eixos principais das lutas que já estão batendo às nossas portas. Ou tal significado é desnudado para o conjunto da população brasileira, em especial para os pobres, os trabalhadores e as classes médias, ou a direita pode se apropriar dessas bandeiras para implantar o seu inverso.

Fonte: http://pagina13.org.br/?p=4909