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domingo, 21 de março de 2010

Alhos não são bugalhos

Generalizar o assunto Política é algo que é feito por má fé ou ignorância. Frases como “político é tudo igual” ou “o problema são esses políticos”, além de não dizerem muito, ocultam as seguintes questões: Os “políticos” não são uma entidade autônoma na vida do país, logo, expressam relações políticas realizadas com anuência, em maior ou menor medida, de todos/as; depois, a desvalorização da política aparece como um mecanismo de elitização da mesma, afastando os segmentos populares – aqueles que devem ser convencidos de que tudo isso é um nojo – do interesse por este tema.

O movimento político-militar de oficiais de baixa patente, conhecido por Tenentismo, ocorrido na década de 1920, aqui no Brasil, expressava uma rejeição ao poder político das oligarquias de então. Baseava-se na crença de que aqueles políticos não tinham amor pelo Brasil e propunham uma intervenção política, mas, sem “os políticos”. Um registro deve ser feito: havia alguma ligação entre os tenentistas e as classes populares naquele momento, uma vez que muitos tenentes ainda buscavam ascensão social.

No entanto, em 1964 os militares reeditam essa mesma “preocupação com os destinos da nação”, desta vez sem vínculo popular algum. O vínculo era com a moralista UDN, do Carlos Lacerda, representante na época de um público equivalente a este que lê a Veja hoje. Na verdade, o golpe de Estado dado em 1964 não é apenas militar, mas cívico-militar com um forte viés conservador.

O engraçado é que o discurso de um Carlos Lacerda poderia muito bem ser feito pela Heloísa Helena atualmente. Por isso, concordo com quem afirma que o PSOL é neo-udenista de esquerda. Todavia, a burguesia e seu apêndice intelectual, a classe média, não costuma terceirizar seus projetos e mantêm vivo o discurso de que “a política é suja” e eles são “a vassoura que vai limpar tudo”. Bingo para quem inclui na lista o Jânio Quadros! “Pobre povo pobre, deixem a política conosco e vejam Big Brother”, dizem seus discursos herméticos nos meios de comunicação de massa.

O comportamento do DEMo na crise política de 2005 é emblemática. Tentou “derrubar” o presidente Lula e não encontrou apoio social para tanto. O Jorge Bornhausen, presidente da sigla à época chegou a dizer que queria acabar com a “raça” do PT. Acabar com “raça” é uma vontade presente em todos os nazistas recalcados ou não. Importante: o DEM já foi PFL, que já foi PDS, que já foi ARENA (partido do governo militar) e que foi composto pelo mesmo pessoal da UDN, do Carlos Lacerda. É o mesmo partido do primeiro governador preso (por corrupção) no Brasil, aliás, o seu único governador, o José Roberto Arruda, do Distrito Federal. Pessoal bom para se falar em moralidade, não é?

Com a Política cada vez mais impopular e com a sociedade cada vez mais individualista e apática, flertamos perigosamente com saídas autoritárias. O mesmo bloco social que ajudou a derrubar as reformas de base o governo do presidente João Goulart está reoganizado, com o reforço da grande mídia. O desgaste, por parte da classe dominante, de suas próprias instituições políticas é caminho certo para alternativas bonapartistas. Não há democratização possível com o abandono da política e cabe aos setores mais avançados da sociedade essa boa e necessária politização.