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sábado, 17 de março de 2012

2012: mentira e falsa razão no PT de João Pessoa para uma aliança sem história e sem futuro


Em quase todo o Brasil, o Partido dos Trabalhadores vivenciou na década de 2000, junto com toda a esquerda na América Latina, um substancial crescimento social, configurando-se como o partido de preferência da população brasileira e institucional, ganhando a terceira eleição para Presidência da República.


Durante este mesmo período, no entanto, PT em João Pessoa, ao contrário do que aconteceu nacional, perdeu peso e importância na cidade. Faz quase uma década que o Partido dos trabalhadores não lança uma candidatura própria na capital do Estado e, em não se presentando para o conjunto da sociedade, deixa de formular projeto de governo para a cidade, perde capacidade de diálogo com sua base social e condição de referência no campo da esquerda política.

No que depender dos setores do partido ligados ao deputado federal Luiz Couto, que em 2010 atuou contra o PT e em favor da coligação PSB-DEM-PSDB, o partido continuará minguando na condição de coadjuvante na vida política de João Pessoa. Esses setores levemente majoritários em João Pessoa advogam a tese de que o PT deve continuar atrelado ao projeto do PSB uma vez que essa aliança "tem história e tem futuro".

Dizer que o PT e o PSB têm uma história de alianças em João Pessoa, e mesmo na Paraíba, é mentira! Senão vejamos:

No ano 2000, o PT lançou Luiz Couto candidato na disputa pela prefeitura da capital. Naquele momento, apenas o PCdoB acompanhou o PT, já o PSB fez parte da ampla coligação que reelegeu no primeiro turno o então prefeito Cícero Lucena, à época no PMDB.



Em 2002, o PT lançou o então deputado federal Avenzoar Arruda ao governo do Estado. Chegamos próximos aos 13% dos votos em todo o Estado e em João Pessoa alcançamos 27%. Em nossa coligação estavam PL, PMN, PSC e o ainda aliado histórico, PCdoB.



Em seguida, nas eleições municipais de 2004, O PT lançou, em coligação com o PSDC e PAN, Avenzoar Arruda a prefeitura da capital. O isolamento do PT nesta coligação refletiu o isolamento social da candidatura. Terminamos o pleito com 11.003 votos que significaram 3,29% do total.

É eleito em primeiro turno o então deputado estadual Ricardo Coutinho, que migrou do PT para o PSB que fez aliança com o PPS, PCB, o pragmático PCdoB e com o PMDB, que naquela oportunidade não era chamado pelos ricardistas de “partido do atraso”.



A primeira vez que o PT e o PSB, durante a década de 2000, se encontraram na mesma coligação foi no ano de 2006. Encontrarem-se por conta do apoio que derem ao PMDB. O PT, apoiando o então senador José Maranhão de acordo com o projeto de reeleição do presidente Lula. O PSB, devolvendo o apoio que recebeu nas eleições anteriores. A coligação liderada pelo PMDB tinha além do PT e PSB, o PCdoB e o PRB.



A segunda e última vez que o PT e o PSB se encontraram na mesma aliança foi no ano de 2008. Naquele ano, o prefeito Ricardo Coutinho disputou sua reeleição em uma ampla coligação que apresentava PSB, PRP,PSC, PPS, PRTB, PV, PT, PSL, PTC, PMDB, PCdoB, PTdoB, PRB, PTB e PCB.



O detalhe que chama atenção neste momento é que o vice-prefeito nesta coligação de 15 partidos é também do PSB, o atual prefeito Luciano Agra. O PT não teve força para compor a chapa majoritária e assumiu o papel de simples coadjuvante em João Pessoa.



Finalmente, nas últimas eleições de 2010, o PT permaneceu no mesmo bloco político que se formou em 2006. O PSB afasta-se deste grupo e junto com o DEM, PPS e PSDB elegem Ricardo Coutinho governador.



Se a relação do PT com o PSB fosse tão umbilical como afirmam o deputado Luiz Couto e seus liderados, não seria plausível que o PSB abrisse mão de indicar uma ilustre desconhecida do conjunto da população para apoiar o nome do próprio deputado Luiz Couto? Não foi assim que o PT procedeu (erroneamente) ao abrir mão da prefeitura de Belo Horizonte para apoiar um nome do PSB em 2008?



Ou será que Ricardo Coutinho guardar rancor do processo de expulsão que sofreu no partido liderado por Luiz Couto? Já que os aliancista gostam tanto de história cabe aqui registrar que Luiz Couto e seus liderados tentaram expulsar Ricardo Coutinho do partido no início da década
de 2000 por infidelidade partidária, exatamente o fizeram em 2010. Se cabia a expulsão de Coutinho, não cabe a expulsão de Couto?



Na verdade, os que defendem que o PT continue na condição de coadjuvante querem uma aliança com o que chamamos de “ricardismo”. O ricardismo está além do PSB. O que prova isto é que, ao sair do PT em 2003, o chamado “Coletivo Ricardo Coutinho” dividiu-se entre PSB e PPS. Figura chave na articulação do projeto político do atual governador e seu fiel escudeiro desde o início dos anos 1990, o atual secretário de comunicação do Estado, Nonato Bandeira, é pré-candidato a prefeito da capital pelo PPS.



O ricardismo é forjado a partir da capacidade de liderança do vereador e depois deputado Ricardo Coutinho, junto a lideranças de movimentos sociais urbanos fazendo dos mandatos que exerceu nos Legislativos, municipal e estadual, canal de expressão dos anseios destes setores organizados.



Outra possibilidade para explicar a projeção do ricardismo é justamente a contraposição que Ricardo Coutinho fazia com sua prática política a uma visão de partido defendida pelos que hoje o apóiam dentro do PT. Ou seja, embora nunca tenha priorizado o PT e suas disputas, enquanto Ricardo Coutinho vinculava-se aos movimentos sociais, o partido foi aos poucos afastando-se dos mesmos e adotando cada vez mais uma postura que o resumia a uma legenda eleitoral.



Em 2004 a base social do PT acompanhou a candidatura de Ricardo Coutinho que conseguiu simbolizar naquele momento o desejo de mudança da população. Essa eleição provou ao PT que, mesmo para se resumir a disputas de eleições, o partido não pode igualar-se ao que combate, e que precisa manter sua vinculação com sua base social e suas demandas.



Importante insistir, a população acompanhou em 2004 a candidatura Ricardo Coutinho e o ricardismo, e não o PSB. O PT sobreviveu a saída de lideranças históricas, já o PSB na Paraíba tem seu crescimento vinculado a figura do atual governador e do fato de estarem a frente do poder executivo, municipal e depois estadual. Ou seja, sem Ricardo Coutinho e fora do governo não haveria PSB como força política na Paraíba.

Fica provado, portanto, que é mentira que PT e PSB, em João Pessoa, formam uma aliança de história. Uma mentira repetida mil vezes, continuará sendo uma mentira. O argumento de que seria o fortalecimento do campo democrático e popular também falta com a verdade, uma vez que o PDT sempre esteve, na última década, atrelado ao PSDB-DEM, inclusive em 2008 contra o PSB.



Resta, então, mostrar que há uma falsa razão na afirmação de que formam uma aliança de futuro. Na primeira gestão do ricardismo a frente da Prefeitura de João Pessoa, houve com ou sem cooptação, uma preocupação em pautar demandas históricas de movimentos sociais da cidade. Assim, surgiu a secretária de habitação, a coordenadoria de políticas para as mulheres e o orçamento democrático.



Todavia, em um segundo momento, um pouco antes de sua reeleição em 2008, o ricardismo operou guinadas à direita visando as eleições 2010. Neste momento, o ricardismo deixa de ser uma parcela da esquerda em João Pessoa para tornar-se algo semelhante ao que foi o “janismo” do ex-presidente Jânio Quadros.

O janismo foi a expressão das classes médias urbanas mobilizadas por um discurso moralista que se opunham aos políticos tradicionais. O ricardismo indica, desta forma, um atraso de meio século de nossa classe médias urbana na disputa com as antigas oligarquias políticas do Estado. Não à toa, o atual governador diz querer fazer a Paraíba crescer 40 anos em 4, lembrando o esforço do antigo presidente JK e seus 50 anos em 5.



Assim como o janismo, o ricardismo se expressa sempre na primeira pessoa do singular, faz discurso moralizador e afirma-se diferente pela honestidade; diz ser a renovação contra o atraso, dialoga pouco e mal com o parlamento e demais partidos políticos.

Ao reeleger-se em 2008, o atual governador escolheu seu secretário de planejamento para vice-prefeito. Não há diferença entre o ricardismo que está na prefeitura e o que está no governo do Estado. A diferença é que no governo do Estado a sua base de sustentação está à sua direita, limitando a sua capacidade modernizadora. A ascensão do PSB ao governo do Estado foi o suspiro do bloco PSDB-DEM para próximas batalhas.

O PSB, não apenas na Paraíba, aprofunda sua aproximação com o PSDB, e ao mesmo tempo em que disputa o espólio do lulismo imprime novo fôlego às políticas neoliberais, como a privatização do Hospital de Trauma em João Pessoa, quebra da autonomia financeira da UEPB, arrocho fiscal, judicialização e criminalização das greves, repressão aos movimentos sociais, etc.



Ao igualar-se a tudo que sempre combateu, o ricardismo mostra sinais de esgotamento e chega ao começo do fim de seus 10 anos gloriosos, iniciados em 2004. Ao invés de modernizar a Paraíba, está passando para a população a idéia de que no fim das contas todos os políticos são iguais, o que é extremamente maléfico para os que militam na esquerda. Isto para não falar dos diversos escândalos envolvendo a prefeitura de João Pessoa e o governo do Estado.



A João Pessoa e a Paraíba da qual falam os defensores da aliança PT-PSB é como o “fantástico mundo de Bobby”, só existe na imaginação. Se ganharem dia 18 de março, obrigam o PT a embarcarem num Titanic. É por isso que esta aliança não tem futuro. Qual a verdadeira razão para Luiz Couto e seus liderados lutarem tanto contra o PT? Eu não sei.



O PT tem um nome de viabilidade inquestionável. Luciano Cartaxo foi eleito deputado estadual com poucos mais de 24.000 votos, dos quais quase 18.000 só em João Pessoa; já exerceu 4 mandatos de vereador na cidade e hoje coloca-se a disposição da candidatura própria. Além disso, o PT de João Pessoa tem história e tem futuro.



quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

GATOS LIVRES E CÃES ADESTRADOS NO PT DA PARAÍBA

Nas disputas internas ao PT da Paraíba foi dito, recentemente, em artigo pouco repercutido, que o Diretório Estadual orientando o partido à oposição ao governo de Ricardo Coutinho, é hegemonizado por um “balaio de gatos” e que se espera mudar essa realidade no próximo PED. A pouca sofisticação desta argumentação não permite nenhum debate público mais aprofundado. Porém, para aqueles que lutam pelo fortalecimento do PT – e não do PSB/DEM/PSDB – é extremamente ilustrativo acerca do tipo de relação e do nível das disputas que teremos no interior do partido. Sobre isto, o Prof. Eder Dantas escreveu excelente artigo intitulado PT/JP: A nova nau dos insensatos, publicado no portal politicadaparaiba.com.br no último dia 10 de dezembro.
É evidente que entre aqueles que elegeram o companheiro Rodrigo Soares presidente do PT, e que estão sob sua coordenação, há muita diversidade política. O que para aqueles que defendem o bloco PSB-DEM-PSDB dentro PT é algo usado para nos ofender, ou seja, nossa pluralidade, para nós é sinal de força. Afinal, como tanta diversidade política consegue manter firme sua unidade? Exatamente porque temos um projeto político que se expressa na busca pelo protagonismo do PT da Paraíba.
Acuados, os tucanos-girassóis do PT só atacam da seguinte maneira: “tudo o que queremos com o PSB-DEM-PSDB vocês também querem com o PMDB”. Além de ser um argumento pueril é simplesmente mentiroso. Senão vejamos.
A aliança que o PT fez com o PMDB em 2010 estava completamente de acordo com o nosso projeto nacional. Como reafirmou a resolução política aprovada pelo Diretório Nacional do PT publicada no último dia 13 de dezembro, 2010 foi o ano de todos os esforços para eleger a companheira Dilma para o terceiro mandato do PT frente ao governo federal. Somos o partido que estamos mudando o Brasil para melhor e em nome disto, muitas candidaturas próprias nos Estados foram comprometidas.
A nossa política nacional em 2010 foi correta. Havia muito em jogo e enfrentamos os aliados de Ricardo Coutinho e Luiz Couto – todos adversários do PT - em uma campanha polarizada em nível nacional. A campanha de José Serra mobilizou 44% dos votos embalados em quase todas as formas de preconceitos, sobretudo contra mulheres, pobres, homossexuais, negros e nordestinos. A mesma campanha de José Serra que derrotou Dilma em Campina Grande e deu vitória a Ricardo Coutinho. Quem era na Paraíba o candidato de José Serra?
Registre-se que o grande vencedor em 2010 é o atual senador Cássio Cunha Lima que a um só tempo conseguiu rachar a base de sustentação do governo federal e se tornar um quadro político decisivo para a vitória do atual governador. O senador de Ricardo Coutinho, Luiz Couto e seus discípulos faz oposição ao governo do PT.
O que os tucanos-girassóis do PT não conseguem dizer é o que mudou em tão pouco tempo. Em que política eles (Luiz Couto e Ricardo Coutinho) votam em 2006? Em que política eles estavam em 2008? Na verdade, que mudou neste curto período foi o projeto do PSB em chegar ao Palácio da Redenção em 2010 junto com quem sempre combatemos.
Aliás, os que agora fazem a defesa cega da aliança com o PSB usavam expressões bem mal educadas, em passado bem recente, ao se referirem ao agora governador Ricardo Coutinho. O que mudou? Os tucanos-girassóis do PT deveriam ao menos ter a decência de fazer uma autocrítica pública, porque tudo o que dizem agora é o contrário do que diziam antes.
Em nome de que projeto político, então, os tucanos-girassóis do PT querem hegemonizar o partido no próximo PED? Quando os tucanos-girassóis do PT fazem alguma referência ao projeto nacional é no sentido de registrar que o PSB é base de apoio do governo Dilma. Seguindo essa linha de raciocínio cabe perguntar: o PMDB é o que? Se o vice-presidente Michel Temer fosse do PSB e não do PMDB os discípulos de Luiz Couto certamente mudariam a cor da bandeira do PT de João Pessoa para laranja. Aliás, laranja parece ser uma cor bem apropriada para eles.
Porém, nos interessa o PT. Não nos diz respeito o PSB – que já se movimenta em seu próprio projeto político, na Paraíba e nacionalmente – ou o PMDB. Como orienta o Diretório Nacional, como em 2010 foram todos os esforços para eleger a companheira Dilma, em 2012 todos os esforços devem ser para fortalecer o PT.
Por fim, preferimos mesmo a alcunha de gatos. Como dizia Chico Buarque, gatos já nascem livres. Ruim mesmo deve ser a condição de cães adestrados. Sejam de guarda, de trabalho ou de companhia, cães adestrados são sempre obedientes, submissos, sem autonomia, latindo e calando, indo e vindo quando o dono mandar.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Tucanos e Girassóis no PT da Paraíba

Analisando friamente as disputas internas no PT da Paraíba é possível identificar ao menos duas espécies. A primeira, os tucanos-do-PT e a segunda os girassóis-do-PT. Chama atenção que para nenhuma dessas espécies o projeto nacional do partido aparece como prioritário. O que chega a ser engraçado já que é praticamente consenso na literatura política o fato de que o PT é um dos poucos partidos no Brasil que têm claramente um projeto nacional.

Mas, tucanos-do-PT e girassóis-do-PT pouco querem saber disse. Observem que em suas frágeis argumentações – sim, às vezes tentam argumentar – eles colocam sempre o projeto nacional como um elemento secundário para justificar seus acordos paroquiais.

Mas, há diferenças entre eles. Os tucanos-do-PT são mais antigos e atuam organizadamente pelo menos desde o ano 2000, quando sua referência maior, o atual senador Cássio Cunha Lima, que faz oposição ao governo Dilma (PT) ainda nem era do PSDB. Este espécie é também mais discreta, defendem o atual governo do Estado de acordo com o comportamento de seu líder maior, afinal, seu verdadeiro compromisso não é com Ricardo Coutinho (PSB) e chegam até a dizer que a política que o PSB defende agora eles já defendiam faz muito tempo. Justiça seja feita, é verdade.

Já a outra espécie, os girassóis-do-PT são radicais e barulhentos, como todo neófito recém convertido. Esforçam-se para chamar atenção do Palácio para eles. Fazem de tudo para mostrar ao rei a sua fidelidade e submissão. É compreensível, afinal, até bem pouco tempo atrás combatiam a ferro e fogo o atual governador. Latiam alto e grosso para quem agora miam fino e baixo. Quem não lembra do processo de expulsão do PT liderado por Luiz Couto contra Ricardo Coutinho?

Pois bem, essas duas espécies não abrem mão do PT, porque fora do PT perdem qualquer utilidade. Partem sempre do pressuposto que o PT está errado e não há argumentos que os convença do contrário.

Na verdade, não há acordo possível com essas duas espécies. Ou são derrotadas de uma vez por todas ou eles derrotarão o PT.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

La izquierda en América Latina y el Caribe: balance y desafíos

Por Valter Pomar (06/06/11)

Si quiere ampliar su fuerza sin perder el rumbo, la izquierda latinoamericana y caribeña tendrá que dar más atención al debate sobre el capitalismo del siglo XXI, al balance del socialismo del siglo XX y a la discusión estratégica. Que incluye resolver la ecuación entre línea política, base social, partido, gobierno y Estado.

La América Latina y Caribeña (ALC) jugó un importante papel en el desarrollo del capitalismo, más específicamente, para el enriquecimiento de potencias todavía hoy dominantes: los Estados Unidos y algunos países europeos.

El saqueo y la explotación de ALC contribuyeron para la acumulación de riquezas que precedió a la industrialización capitalista de las metrópolis europeas.

Posteriormente, los países de la región ALC sirvieron no sólo como proveedores de materias primas, sino también como mercado consumidor de productos industriales y receptor de capitales exportados por las metrópolis.

Esta relación de explotación se mantuvo a lo largo de la historia, no importando cuál fuera el país hegemónico del polo metropolitano: Portugal, España, Holanda, Francia, Inglaterra o Estados Unidos.

La explotación por parte de las metrópolis no impidió el desarrollo de América Latina. Pero generó un tipo de desarrollo que reproduce las condiciones generadoras de la explotación, de la dependencia externa y de la desigualdad.

En último análisis, las metrópolis aceptaban y hasta estimulaban el desarrollo, siempre y cuando fuera asociado, subalterno, dependiente, periférico.

Tanto la explotación como el desarrollo asumieron distintas formas, variando de acuerdo a: a) las condiciones naturales; b) las características de las sociedades precolombinas y de las respectivas metrópolis; c) los distintos tipos y niveles de explotación, por ende, de la actitud general de las clases dominantes y del comportamiento de los grupos sociales explotados.

Las diferencias – nacionales, subregionales, sociales, étnicas, culturales y lingüísticas – son a menudo utilizadas para cuestionar la existencia de una única América Latina y Caribeña. Así fue a principios del siglo XIX y así sigue siendo a principios de siglo XXI, como se puede verificar en el discurso de los sectores contrarios a las políticas de integración, especialmente aquellas impulsadas desde 1998 y plasmadas en instituciones como el Alba, Unasur, Celac, etc.

No cabe desconocer, ni tampoco minimizar, las diferencias profundas existentes entre los países de la región ALC. Incluso porque parte de estas diferencias proviene de la acción de las metrópolis y de sus aliados en la región.

Se trata, en cambio, de observar que, desde el período colonial, la región viene manifestando un doble potencial: a) por un lado, un potencial de integración subordinada o, más exactamente, de desintegración en unidades nacionales autónomas y a veces enfrentadas entre sí, pero igualmente subordinadas a centros metropolitanos; b) por otro lado, un potencial de integración autónoma.

Ambos destinos están inscriptos entre los futuros posibles de América Latina: o bien volverse una región integrada desde afuera, a partir de los intereses y necesidades de las potencias centrales; o bien volverse una región integrada desde adentro.

En este segundo futuro posible se inscribe un abanico de alternativas, que va desde una integración homogeneizada por una nación de la región en beneficio de los intereses de su propia clase dominante; hasta una integración de orientación socialista.

A lo largo de los últimos cinco siglos, prevaleció una variante dependiente, asociada y periférica de integración, combinada con desarrollos nacionales marcados por la desigualdad y por reducidas libertades democráticas.

A lo largo de dichos siglos, debido a las conexiones ya señaladas, cada vez que ocurría una crisis en las metrópolis, se acentuaba en la región la disputa sobre la naturaleza del desarrollo nacional, de la integración regional y de las relaciones con el resto del mundo.

Entre fines del siglo XVIII y principios del siglo XIX, el ciclo de las revoluciones burguesas en Europa creó un contexto favorable a las independencias latinoamericanas. Obsérvese que parte de las repúblicas independientes, así como la monarquía brasileña, escapó de la hegemonía ibérica hacia la hegemonía británica.

En la primera mitad del siglo XX, el conflicto interimperialista ayudó a abrir las puertas a una creciente industrialización, proceso que a su vez estuvo en la base del ciclo revolucionario y populista de los años 1930-50, así como del ciclo de golpes y dictaduras iniciado en los años 1960.

Esta etapa de industrialización fue simultánea al declive de la hegemonía británica y a la consolidación de la hegemonía regional y mundial de los Estados Unidos (EEUU).

La crisis internacional de los años 1970, más exactamente la actitud de los EEUU para enfrentar esta crisis, desencadenó en el mundo y en la región ALC un proceso regresivo, caracterizado por el colapso de la socialdemocracia europea, de los nacionalismos africanos, de los desarrollismos latinoamericanos y del socialismo de tipo soviético; y, además, signado por la crisis de la deuda externa y por el ascenso del neoliberalismo.

En las décadas de 1980 y 1990, el neoliberalismo se volvió hegemónico en América Latina, acentuando la dependencia, la desigualdad y el conservadurismo político característicos del período anterior.

En América Latina, en los años 1990, la defensa de los intereses nacionales, populares, democráticos y socialistas entró en una etapa de defensiva estratégica. En otras palabras: en un contexto marcado por la crisis del socialismo y por la ofensiva neoliberal, se trataba de defender las conquistas obtenidas en el período anterior.

A partir de la segunda mitad de los años 1990, esta situación de defensiva estratégica de las fuerzas populares coincidió con un período de gran inestabilidad internacional, producto de la combinación entre dos fenómenos: la crisis del capitalismo y el declive de la hegemonía de los EEUU.

Tenemos, de un lado, una crisis de acumulación, que se manifiesta directa o indirectamente en todos los terrenos: financiero, comercial, cambiario, energético, alimentario, ambiental.

Del otro lado, tenemos la reacomodación geopolítica, resultante: a) de las dificultades que enfrentan los Estados Unidos para mantener su hegemonía mundial; b) de la agudización de las contradicciones intercapitalistas, crecientes tras la derrota del bloque soviético; c) del fortalecimiento de potencias competidoras, especialmente China.

Este período de gran inestabilidad internacional, causado por la combinación entre los fenómenos geopolíticos y macroeconómicos arriba mencionados, está y seguirá estando signado por crisis y revueltas sociales.

No es posible saber cuánto tiempo durará este período de inestabilidad internacional. Ello, al igual que el mundo que emergerá después, dependerá de cómo se articule la lucha política, dentro de cada país, con la lucha entre Estados y bloques regionales.

La lucha entre Estados y bloques regionales se encuentra, hoy, polarizada por los Estados Unidos y sus aliados europeos y japoneses, de un lado; y, del otro, los BRICS y sus aliados.

Diferentemente de lo que ocurría antes de 1945, hoy tenemos una disputa entre Estados de la (casi) antigua periferia y Estados del (casi) antiguo centro. Y, diferentemente de lo que ocurría antes de 1990, hoy se trata de una disputa en los marcos del capitalismo.

América Latina es uno de los escenarios de esta disputa entre los Estados Unidos y los BRICS. Desde el punto de vista geopolítico, considerando el mediano y el largo plazo, hay por lo menos tres escenarios posibles. En el primero de ellos, los Estados Unidos mantienen su condición de potencia hegemónica mundial y regional. En el segundo de ellos, los Estados Unidos pierden su condición de hegemonía mundial, pero se mantienen como potencia regional. En el tercer escenario, el más favorable para ALC, los Estados Unidos dejan de ser potencia hegemónica mundial y también dejan de ser potencia hegemónica regional.

La disputa EEUU/BRICS se da en los marcos del capitalismo. Sin embargo, hay en ALC una variable excéntrica que merece ser tenida en cuenta: como resultado de un proceso iniciado en 1998, se constituyó en la región una fuerte influencia de la izquierda.

Según el documento base del XVII Encuentro del Foro de São Paulo (www.forodesaopaulo.org), partidos de izquierda apoyan, participan o dirigen los gobiernos de Cuba, Venezuela, Nicaragua, El Salvador, Brasil, Ecuador, Bolivia, Uruguay, Paraguay, Argentina y República Dominicana.

Salvo Cuba, cuyo gobierno es resultado de una lucha armada revolucionaria, en un proceso que en abril de 1961 asumió un carácter socialista, los demás gobiernos resultan de victorias electorales, en una ola iniciada en 1998 con Hugo Chávez (Venezuela) y que se mantuvo hasta 2009, con Mauricio Funes (El Salvador).

Los gobiernos en los cuales la izquierda participa conservan, entre sí, importantes diferencias, que van desde aquellas causadas por la naturaleza y geografía, pasando por las históricas y sociales, hasta aquellas producidas por las distintas líneas políticas, tanto de la izquierda que llegó al gobierno, como de la derecha que pasó a la oposición.

Las diferencias políticas no constituyen necesariamente un aspecto negativo. Al contrario: si fuera sólo una, si siguiera un único modelo, la izquierda latinoamericana no habría logrado vencer las elecciones en países tan disímiles.

Pero, pese a la diversidad, todas las izquierdas de ALC enfrentan problemas comunes: a) la herencia del neoliberalismo, el desarrollismo conservador y colonial (como el racismo en Bolivia y en Brasil); b) la oposición radical del sector mayoritario de la burguesía latinoamericana (y sectores aliados) contra cualquier tipo de política redistributiva, ya sea de poder, de riquezas, o de acceso a derechos sociales; c) la actitud belicosa de las antiguas metrópolis contra gobiernos latinoamericanos que priorizan los procesos de integración regional.

Existen distintos procesos de integración. Algunos tuvieron inicio antes de la ola de gobiernos progresistas y de izquierda. Es el caso del Mercosur y de otros acuerdos comerciales subregionales, que respondían a propósitos integracionistas, pero también eran tratados como pasos intermedios hacia el Área de Libre Comercio de las Américas.

Otros procesos de integración surgieron recientemente, por iniciativa de gobiernos en los cuales la izquierda participa: es el caso de Unasur, Alba y Celac.

El Alba es un marco institucional para la cooperación entre gobiernos ideológicamente afines. Unasur y Celac, por su parte, son proyectos de integración regional, que buscan incluir a todos los países de la región, independientemente de la orientación político-ideológica de sus gobiernos.

Dijimos anteriormente que la disputa EEUU/BRICS se da en los marcos del capitalismo; que ALC es uno de los escenarios en los que se entabla esta disputa; y que hay en ALC una variable excéntrica que debe ser tenida en cuenta: la fuerte influencia de la izquierda.

Esta influencia de la izquierda hace posible que ALC se constituya, no en un escenario pasivo, sino en uno de los polos del combate de naturaleza geopolítica que está en curso en el mundo. Como así también vuelve factible hacer de la región uno de los espacios de reconstrucción de una alternativa socialista al capitalismo.

Para transformar estas dos posibilidades en realidad, la izquierda de ALC tendrá que enfrentar varios desafíos teóricos, estratégicos y tácticos.

El primero de estos desafíos es derrotar el contraataque promovido por la derecha latinoamericana y sus aliados metropolitanos.

Este contraataque incluye: a) una campaña mediática permanente contra la izquierda; b) el intento de crear una cizaña entre los gobiernos de izquierda en la región, dividiéndolos entre “moderados” y “radicales” y poniéndolos unos contra otros; c) la promoción de campañas de desestabilización e incluso golpes, de los cuales hasta ahora tuvo éxito sólo el de Honduras; d) el lanzamiento de candidaturas electoralmente competitivas, táctica que tuvo éxito en Panamá, Costa Rica y Chile; e) la presión militar, a través del relanzamiento de la IV Flota y de la ampliación del número de bases militares de los EEUU y aliados europeos en la región.

Este contraataque de la derecha se ve favorecido por dos factores: por una parte, la administración Obama; por otra, los impactos regionales de la crisis internacional.

La elección de Obama generó enormes expectativas en la población de las periferias del mundo, expectativas que dieron al mandatario estadounidense un capital político del cual Bush no disponía. A pesar de que la administración Obama no haya alterado lo fundamental de la política externa de los EEUU, aquel capital político sigue activo, aunque bastante desgastado.

Asimismo, la crisis internacional trajo dificultades inmensas a varios países de la región, especialmente aquellos fuertemente dependientes de las exportaciones, como es el caso de Cuba, Venezuela, Bolivia y Ecuador.

Los desafíos segundo y tercero de la izquierda político-social de ALC consisten en : a) no perder los gobiernos nacionales conquistaos hasta ahora; b) conquistar nuevos gobiernos nacionales.

Las próximas elecciones en la región serán: Perú, Guatemala, Argentina y Nicaragua. Por lo tanto, tres países gobernados por la centroizquierda y un país gobernado por la derecha. Posteriormente, tendremos dos elecciones fundamentales: Venezuela y México.

El cuarto desafío de la izquierda político-social es, en donde controla el gobierno nacional, impulsar cambios estructurales de naturaleza democrático-popular. En este punto, es necesario considerar algunos factores limitantes:

a) a nivel nacional, la izquierda todavía se encuentra en una etapa de defensiva estratégica, lo que crea dificultades objetivas para cambios estructurales;

b) impulsar cambios estructurales a partir de un gobierno electo es algo muy diferente de hacerlo a partir de gobiernos revolucionarios;

c) hacer reformas estructurales exige apoyo político mayor que el necesario para vencer elecciones;

d) los gobiernos de los cuales la izquierda político-social participa en ALC son generalmente coaliciones políticas (con partidos de centro y hasta de derecha) y sociales (con sectores de la burguesía), que actúan en los marcos del capitalismo y que, en mayor o menor medida, adoptan políticas que también benefician a sectores de la burguesía;

e) por ello, además de la oposición de derecha, los gobiernos apoyados por la izquierda político-social en ALC enfrentan una oposición de izquierda, contraria a acuerdos con sectores de centro y sectores de la burguesía, así como contrarias a políticas de tipo capitalista.

Brasil es un buen ejemplo de lo complejo y difícil que es, desde el gobierno nacional, impulsar cambios estructurales de naturaleza democrático-popular.

A lo largo de todo el siglo XX, la historia brasileña estuvo signada por la disputa entre dos grandes alternativas de desarrollo: la conservadora y la progresista.

La alternativa conservadora es aquella en la cual el capitalismo se desarrolla sin reformas estructurales, con bajos tenores de democracia y manteniendo la alineación de Brasil a los intereses de las metrópolis (primero Inglaterra, luego EEUU).

La alternativa progresista es aquella en la cual el desarrollo capitalista se combina con reformas, democratización, soberanía nacional y una política externa autónoma.

A lo largo de gran parte del siglo XX, la alternativa conservadora fue hegemónica, lo cual explica la coexistencia del crecimiento rápido, en un ambiente de dictaduras y desigualdad social creciente.

Durante casi todo el siglo XX, la alternativa progresista, además de minoritaria, fue hegemonizada por fuerzas capitalistas, teniendo a algunas fuerzas socialistas como aliadas.

Pero, a fines de los años 1980, las fuerzas socialistas, encabezadas por el Partido de los Trabajadores, pasaron a dirigir el bloque de fuerzas políticas y sociales defensoras de la alternativa progresista.

Por un breve momento, pareció que pasaríamos a tener, en Brasil, una disputa entre dos grandes alternativas: la capitalista-conservadora y la democrático-popular & socialista.

Pero ese momento duró poco: en un ambiente internacional y nacional marcado por la crisis del socialismo y por la ofensiva neoliberal, el Partido de los Trabajadores y gran parte de la izquierda brasileña alteraron sus objetivos programáticos y estratégicos, asumiendo gradualmente una línea hegemonizada por el progresismo (desarrollo capitalista con políticas sociales, democracia, soberanía e integración), aunque mantuviera el socialismo como meta de largo plazo.

Así, los años 1990 siguieron marcados por la disputa entre la alternativa conservadora (ahora bajo hegemonía neoliberal) y la progresista (ahora encabezada por el PT).

El período neoliberal acentuó las tendencias más conservadoras del patrón tradicional del desarrollo brasileño, a un punto tal que ocurrieron escisiones en el bloque hegemónico. Las disidencias en la grande, mediana y pequeña burguesía fueron fundamentales para la elección de Lula para la presidencia de la República, en 2002.

Una vez conquistada la presidencia de la Republica, el gran tema de la política nacional (y el gran desafío táctico de la izquierda brasileña) siguió siendo la superación de la herencia neoliberal. En 2011, a pesar de los más de ocho años de gobierno encabezados por petistas, esta herencia neoliberal sigue siendo sumamente influyente.

El gran reto estratégico consistía y sigue consistiendo en, manteniendo el control sobre el gobierno nacional y manteniendo la hegemonía del PT sobre las fuerzas progresistas, hacer que la alternativa socialista vuelva a ser uno de los polos de la disputa (como ocurrió a fines de los años 1980). Este reto estratégico se ve dificultado, a su vez, por la creciente influencia material, política e ideológica que tienen distintos sectores de la burguesía sobre el PT.

La vinculación práctica entre el desafío táctico y el desafío estratégico depende de la realización de las llamadas reformas estructurales democrático-populares: reformas que apuntan a alterar la concentración del ingreso, la propiedad y el poder. Más concretamente, nos referimos a la reforma impositiva, reforma agraria, reforma urbana, reforma del sistema financiero, reforma política, democratización de la comunicación, etc. La reforma política tiene importancia destacada, ya sea para reducir la influencia del Capital sobre la izquierda, ya sea para volver alcanzable la mayoría parlamentaria indispensable para las transformaciones estructurales, al menos en los marcos de la estrategia actualmente implementada por la izquierda.

Si la izquierda en el gobierno no es capaz de realizar o al menos de dar pasos en el sentido de estas reformas, no posee significado estratégico, por más que en lo inmediato contribuya para mejorar la vida del pueblo. Y la no realización de tales reformas puede decepcionar y dividir a los apoyadores de la izquierda, como en parte ocurrió en Chile con la Concertación.

Pero, para realizar reformas estructurales (o por lo menos para acumular fuerzas en ese sentido), un gobierno de izquierda necesita sustentación política, sin la cual puede ser derribado, como ocurrió con el gobierno de Honduras.

Para enfrentar el cuarto desafío, por lo tanto, la izquierda político-social no puede ir muy rápido, ni tampoco muy despacio. Para ello, necesita considerar adecuadamente la correlación de fuerzas, a través del análisis concreto de la situación concreta. Y debe reanudar el debate estratégico abierto por la experiencia de la Unidad Popular chilena.

El quinto desafío de la izquierda político-social de ALC es acelerar el proceso de integración, fundamental para aprovechar el potencial de la región y también para reducir la injerencia imperialista.

Un sexto desafío es volver hegemónica, en la región, una cultura popular latinoamericana y caribeña. Pues la verdad es que el american way of life sigue siendo hegemónico, incluso cuando los EEUU están fuertemente cuestionados desde el punto de vista político.

El séptimo desafío se refiere a ampliar la capacidad teórica y política de las izquierdas latinoamericanas y caribeñas. Con destaque para la necesidad de ampliar la coordinación entre gobiernos, partidos y movimientos sociales. Sin esto será cada vez más difícil tanto enfrentar a la derecha en el plano nacional como enfrentar los desafíos de la integración continental y de la inestabilidad mundial.

La reflexión teórica debe enfrentar y superar tres factores negativos, que generan deformaciones sistémicas en la visión de mundo y en formulaciones de las distintas familias de la izquierda en ALC:

1) la crisis de las alternativas nacionalistas, desarrollistas, socialdemócratas y socialistas, combinada con la influencia del neoliberalismo;

2) la importancia asumida por los procesos electorales y por la participación en la institucionalidad estatal;

3) la necesaria construcción de frentes policlasistas, en un contexto de debilitamiento de la clase trabajadora en tanto clase en sí y para sí.

Estos factores negativos actuaron de manera distinta sobre cada familia de izquierda, y sobre cada organización en particular. Podemos identificar, sin embargo, tres tendencias que se hicieron presentes en todas las familias y partidos: el centrismo, el utopismo y el movimientismo.

En la coyuntura de los años 1990, hacer concesiones (políticas y programáticas) era inevitable, salvo para el izquierdismo fanático. Por lo tanto, cuando hablamos (y criticamos) el centrismo, nos estamos refiriendo a organizaciones que hicieron concesiones más profundas, cambiando de objetivos programáticos, de base social o sencillamente adoptando una postura estratégicamente subalterna a los intereses de sectores de la burguesía. Postura que fue predominante entre los que adoptaron estrategias dichas de centroizquierda.

En cualquier coyuntura, una organización de izquierda necesita alguna dosis de voluntarismo romántico (o utopismo, en el sentido corriente de la palabra), que fortalezca las convicciones científicas y racionales, al mismo tiempo que ayude a recordar los objetivos de largo plazo. Por lo tanto, cuando hablamos (y criticamos ) el utopismo, nos estamos refiriendo a organizaciones que, en el plano táctico, adoptan una postura de sistemática minimización de la fuerza de nuestros enemigos; y que, en el plano estratégico, adoptan paradigmas precapitalistas. Esta segunda característica está muy presente en la izquierda boliviana y ecuatoriana, pero no solamente.

Un partido de izquierda que cambia bases sociales organizadas por bases electorales está condenado a la derrota ideológica, política e incluso electoral. Motivo por el cual la izquierda necesita, obligatoriamente, tanto apoyar como fomentar la movilización y organización de sus bases sociales. Por lo tanto, cuando hablamos (y criticamos) el movimientismo, nos estamos refiriendo a una concepción cripto-anarquista, que subestima la importancia de la lucha electoral y de la participación en gobiernos, en este período histórico; que mistifica y mitifica los llamados movimientos sociales; y que tiende a convertir, en el plano de las ideas, a los movimientos sociales en la vanguardia de la lucha contra el capitalismo.

Como resultado de todo lo que apuntamos antes, la izquierda de ALC enfrenta, actualmente, grandes dificultades para cumplir las dos tareas básicas para quienes desean alterar el status quo: ofrecer un mapa del camino y coordinar el conjunto de los frentes de actuación.

Claro que la afirmación anterior puede no ser adecuada en lo que atañe a algunas organizaciones y/o a algunos sectores que existen dentro de cada partido. Pero, desde una mirada de conjunto, consideramos que se trata de una descripción adecuada.

Específicamente en el caso de los partidos de gobierno, es preciso también tener en cuenta que ganar elecciones y administrar países profundamente desiguales, con poblaciones fuertemente influenciadas por la prensa de masas, exige movilizar el apoyo de capas populares más propensas a seguir liderazgos carismáticos, a contramano de las indispensables direcciones colectivas.

Exige, también, gran cantidad de recursos financieros, indispensables en procesos electorales en que el debate programático es fuertemente tensionado por el “comercio del voto”. Lo que genera una relación con el Estado y con los sectores empresariales que puede autonomizar, aunque sea parcialmente, a estos partidos de sus bases sociales originales.

Exige, finalmente, actuar dentro y fuera del aparato del Estado, buscando ser, al mismo tiempo, fuerza hegemónica y contra-hegemónica, capaz de disputar elecciones y gobernar como parte del camino hacia el poder, o sea, hacia una revolución político social. Lo cual es más fácil decir que hacer, especialmente cuando se está atrasado en el debate estratégico acerca de la vía chilena, o sea, acerca del camino estratégico que la Unidad Popular de 1970/1973 intentó recorrer.

Los factores negativos comentados más arriba afectan a todos los partidos políticos de gobierno, independientemente de la radicalidad exhibida por las administraciones que integran o apoyan. Pero hay diferencias relevantes que considerar.

En aquellos países en que el neoliberalismo fue más destructivo, éste solapó incluso las bases de sustentación de la derecha clientelista y disolvió todo el espectro político, incluso de izquierda.

También por ello, cuando se agota la hegemonía neoliberal y la oposición vence las elecciones, los nuevos presidentes son parte integrante de organizaciones políticas relativamente recientes, como es el caso del MVR venezolano, del MAS boliviano y del PAIS ecuatoriano.

Además, los nuevos gobernantes encuentran la necesidad y al mismo tiempo disponen de los medios para convocar procesos constituyentes, radicalizando el proceso desde el punto de vista retórico, político e institucional.

Esta radicalización es, en parte, una reacción contra las brutales desigualdades estructurales; por otra parte, constituye una respuesta a la radicalidad de la oposición de derecha, con sus campañas de descalificación, desestabilización y golpes.

No obstante, la radicalidad política no implica que, en esos países, las condiciones macro y microeconómicas sean las más favorables a la construcción de un modelo económico post neoliberal, ni mucho menos de un modelo post capitalista.

La contradicción entre las condiciones subjetivas y objetivas está en la base del creciente conflicto entre una parte de la base social original de estos gobiernos, con algunas de las políticas desarrollistas que estos mismo órganos de gobierno son obligados a ejecutar. Decimos “obligados” porque se trata tanto de responder a las demandas sociales acumuladas, como de corresponder a las necesidades futuras de mediano y largo plazo.

Como el desarrollismo realmente existente es de naturaleza capitalista, eso genera reacciones centristas (alianzas estratégicas con el capital), movimientistas (reacciones sectoriales contra determinadas políticas) y utopistas (rechazo izquierdista al desarrollismo) en las distintas familias de la izquierda. Tales divisiones en la base política y social de los gobiernos, en un escenario de dificultades causadas por la crisis internacional, pueden generar un escenario electoral favorable a la oposición de derecha.

En otros países del continente, donde había una economía industrial diversificada, la resistencia político-social consiguió imponer más límites al neoliberalismo; y el Estado y el espectro político fueron más preservados.

En estos países, los partidos políticos antiliberales que vencen las elecciones tienen muchos años de vida, como es el caso del Partido de los Trabajadores de Brasil (1980) y del Frente Amplio de Uruguay (1971). Por motivos similares, la derecha que pierde las elecciones sigue muy poderosa e influyente, bloqueando procesos constitucionales y reformas estructurales.

No sorprende que, en estos países, el pragmatismo centrista sea fuerte, mientras que el utopismo y el movimientismo son relativamente marginales.

Paradójicamente, a contramano de esta relativa moderación política de los procesos, en estos países, las condiciones macro y microeconómicas son (al menos potencialmente) más favorables a la construcción de un modelo económico post neoliberal; e incluso a la construcción del socialismo.

Aun considerando el esquematismo de la descripción, la contradicción que señalamos, entre condiciones subjetivas y objetivas, sólo encuentra solución teórica y práctica en los marcos de una estrategia continental. Es por eso que el tema de la integración es el principal divisor de aguas en el debate político de la izquierda en ALC.

La integración no garantiza un futuro socialista para cada uno de los países de América Latina y el Caribe. Y no toda integración es compatible con una estrategia socialista. Pero, en la actual situación internacional, para la mayoría de los países del ALC, sólo la integración vuelve el socialismo (o incluso un desarrollismo capitalista progresista) una alternativa realista.

Por ello, si quiere ampliar su fuerza sin perder el rumbo, la izquierda latinoamericana y caribeña tendrá que dar más atención al debate sobre el capitalismo del siglo XXI, al balance del socialismo del siglo XX, y a la discusión estratégica. Que incluye resolver la ecuación entre transformación nacional e integración regional.

*Valter Pomar es miembro del Directorio Nacional del PT.

(contribución al seminario organizado por Movement for Social Justice. Trinidad y Tobago, 12 y 13 de mayo de 2011)

Fuente: http://elsocialismoesposible.org/node/275

terça-feira, 14 de junho de 2011

Superar os limites da aliança de classes e retomar as ruas!

Por Ademário Costa* (13/06/11)

Desde a vitória de Lula em 2002 que nós, do PT, somos responsáveis pela condução do governo central do Brasil. Inegavelmente, a nossa presença no governo é técnica e politicamente superior a todas as gestões anteriores. Conduzimos o Brasil à uma série de feitos inimagináveis, resgatando a auto-estima e a confiança do povo brasileiro em um futuro cada vez melhor para as atuais e próximas gerações.

Interrompemos o processo de privatização do no núcleo estrutural da economia, elevamos a renda dos trabalhadores(as), aumentamos a massa salarial, fortalecemos o mercado interno, aumentamos o crescimento do PIB, rompemos com a dependência do FMI, aceleramos o processo de integração regional de forma solidária, acabamos com a ALCA, contribuímos para o fortalecimento da democracia no continente, retiramos milhões de pessoas da pobreza, diminuímos as desigualdades sociais, melhoramos a educação e a saúde, por fim, reelegemos o projeto pela terceira vez com e eleição da Presidenta Dilma.

Ainda poderíamos elencar uma série de grandes feitos das nossas gestões que são qualificados como fatos incríveis ou inesperados, justamente por nunca antes terem acontecido. O ineditismo impactante destas ações é uma característica marcante deste novo ciclo de desenvolvimento pós-neoliberal do capitalismo no Brasil. O fato deste processo ser conduzido por um partido de trabalhadores(as) também é uma surpresa histórica. Foi necessário que o PT, nascido das lutas de enfrentamento aos patrões, chegasse ao governo para estabilizar um processo de desenvolvimento com inclusão social em um regime democrático burguês.

Estamos cumprindo uma série de tarefas de organização do estado, típicas das revoluções burguesas clássicas na Europa e na América do Norte. Para isso, optamos por construir um governo de colaboração de classes, onde o trabalho e o capital alcançam ganhos constantes, tais como: aumento do lucro, da massa salarial, do valor real dos salários e do nível de emprego.

Essa aparente sensação, de que todos ganham, só é possível porque a nossa presença no governo, combinado com o atraso secular do estado brasileiro possibilitou verdadeiros avanços comparativos para o conjunto da nossa sociedade. Está sendo possível melhorar significativamente as condições em que a classe trabalhadora reproduz a sua força de trabalho, sem destruir o núcleo estrutural da sociedade capitalista.

Os interesses entre burgueses e proletários são de natureza contraditória e conflituosa, sabemos que a atual conjuntura nos permite navegar pela trilha da chamada concertação¹, mas não é possível continuar conciliando indefinidamente os interesses antagônicos das classes sociais. A burguesia brasileira tem como estratégia para o desenvolvimento do capitalismo a inserção subordinada na sociedade global. Para este setor, muitas das tarefas democráticas ou reformas burguesas, simplesmente não cabem no Brasil, pois comprometeriam o pacto das elites de dominação de classe.

As mudanças que estão acontecendo em nossa sociedade possibilitaram ao PT e ao conjunto da esquerda, vitorias eleitorais traduzidas em um acúmulo também inédito de força institucional que paulatinamente tem desmontado a direita partidária que procura a sobrevivência através da transfiguração ideológica ou da adesão pura e simples aos nossos governos. Este adesismo reforça a opção estratégica da maioria do PT, de constituir uma frente ampla de sustentação ao programa da revolução democrática, envolvendo inclusive partido e setores econômicos da burguesia brasileira.

O estado brasileiro não tem capacidade infinita de financiamento dos programas sociais. Para libertar o país da servidão econômica será necessário subverter a estrutura perversa de concentração de renda, lucros e terras, além de combater a hegemonia ideológica burguesa. Neste ponto residem os limites da atual aliança de classes, com característica de frente ampla que sustentam os nossos governos.

Por esse motivo, a maioria das tentativas de avanço institucional que incidam sobre a democratização da propriedade, dos lucros, da quebra dos monopólios privados, o combate as opressões especificas, tais como: racismo, machismo, sexismo, lesbofobia e homofobia, além da preservação do meio ambiente, do aumento real de salário são sistematicamente derrotadas ou boicotadas, inclusive por setores e partidos que participam da base aliada do nosso governo.

Estes mesmos setores se beneficiam politicamente, da utilização, de parte do nosso programa e de nossos símbolos, para confundir o eleitorado e surfar na onda de melhorias, se adaptam para manter a sua força eleitoral ao mesmo tempo em que dificultam o avanço do nosso projeto.

A derrota na votação do código florestal, as reações ao kit anti-homofobia, e ao PLC 122, os assassinatos de ambientalistas e de agricultores familiares, a repressão a movimentos sociais e a incapacidade de avançar na pauta das reformas estruturais são sintomas de que os limites do nosso governo já se tornaram amplos demais para os nossos “neo-aliados”, que com estas e outras demonstrações procuram encerrar, nos marcos da aceitabilidade, os avanços dos últimos anos.

Precisamos olhar para a história e aprender com outras experiências, particularmente na esquerda europeia, em que partidos de trabalhadores(as) que chegaram ao poder pela via eleitoral, aplicaram programas de melhorias sociais, baseados em uma política de coalizão, transformaram-se em gerentes das crises cíclicas do sistema e fizeram de sua passagem pelo poder um espaço de recuperação política da direita.

É importante observar, atentamente, os acontecimentos em Portugal e Espanha, países de rica tradição de luta socialista em que a contestação da crise econômica feita pelo povo nas ruas, não se traduziu em aumento da força eleitoral da esquerda, mas sim, em desencanto com os métodos e práticas de governo que confundiram a sociedade e desmobilizaram eleitoralmente a base social da esquerda nessas localidades.

O Programa de aceleração do crescimento, o Plano nacional de expansão da banda larga, o Programa Brasil sem miséria, as medidas complementares de controle inflacionário apontam para uma opção de continuar avançando. Mas, ainda existe muito há ser feito para melhorar a vida do povo, mesmo nos marcos do capitalismo. Quanto mais nos propusermos a avançar mais encontraremos dificuldades e, inevitavelmente, nos confrontaremos com um conjunto de interesses cristalizados, evidenciando diferenças e tensões inclusive entre e com os nossos neo-aliados.

Mesmo com força institucional que o governo central nos confere, não podemos esquecer que a burguesia, representada organicamente pela direita e centro-direita continua sendo maioria no congresso nacional, nas assembleias legislativas, nas câmaras de vereadores, entre os prefeitos e governadores, disputam os nossos governos, dirigem o poder judiciário, a mídia, conservam intacto o seu poderio econômico e representam a ideologia dominante na nossa sociedade. Temos o governo, mas este, por si só, não nos garante instrumentos de poder suficiente para aprofundar as mudanças em curso.

Atualmente, existe uma intensa agitação de importantes setores da classe trabalhadora que já sentem de forma mais intensa os limites da coalizão e se apresentam para a luta. Servidores Federais, Estaduais, estudantes, trabalhadores da iniciativa privada, anti-proibicionistas, feministas, Gays e Lésbicas e outros setores, começam a demonstrar em greves e mobilizações massivas a compreensão de que não podemos depositar unicamente na institucionalidade a responsabilidade por garantir os avanços sociais.

Precisamos consolidar como política de estado, uma série de conquistas alcançadas durante os nossos governos e impulsionar uma nova etapa de vitórias. Não existem mudanças sem lutas! Seremos nós, nas ruas e avenidas, praças e ocupações que daremos sustentação as conquistas existentes e avançaremos para aprofundar as mudanças através de um programa de reformas democráticas e populares. Programa este, que incida diretamente no núcleo estrutural da economia capitalista e acumule para o socialismo.

Os socialistas deve se submeter a um constante preparo para serem capazes de colaborar com a classe trabalhadora no seu processo de reencontro com as mobilizações sociais. São tarefas deste preparo: exercitar constantemente disputa política e ideológica, colocar na ordem do dia o programa democrático popular, estimular as lutas sociais de massa, disputar o PT e fortalecer as organizações da esquerda socialista.

* Secretário de finanças do PT/BA

¹ concertação: Pacto, acordo de classes

Fonte: http://pagina13.org.br/?p=8557