Páginas

sábado, 13 de março de 2010

Muito mais que duas esquerdas

Há, na grande imprensa e nos meios acadêmicos, a idéia de que existem duas esquerdas na América Latina. Uma seria radical, populista e ideológica e outra moderada, racional e responsável. Fica evidente o juízo de valor desta divisão que, entre outros, é defendida por Teodoro Petkoff, ex-comunista e atual opositor do governo de Hugo Chavez, na Venezuela. A CIA, em relatórios já publicados, apresenta a mesmíssima concepção quanto às esquerdas de nosso continente.

O sociólogo equatoriano Franklin Ramirez Gallegos, em seu artigo “Mucho más que dos izquierdas” combate esta dicotomia. Para ele, as esquerdas na América Latina apresentam uma heterogeneidade em suas trajetórias e composições. Existem, portanto, várias esquerdas na América Latina, cada uma com suas particularidades.

É fato que, pela primeira vez, partidos e coalizões de esquerda chegam aos governos nacionais, na América Latina, concomitantemente, em muitos países e pela via democrática, a partir dos anos 2000, inaugurando um período pós-neoliberal, mesmo que o neoliberalismo ainda seja hegemônico socialmente.

Para compreender cada contexto particular, ainda segundo Ramirez Gallegos, três aspectos devem ser observados: a) a trajetória dos partidos políticos de esquerda em cada país, se havia um sistema partidário consolidado ou se precisaram lutar pela democracia, b) o espaço ocupado e o papel desempenhado pelos movimentos sociais e suas capacidades de pautarem as suas demandas e c) a herança deixada pelo período neoliberal, o que influenciará na capacidade de implementação de algumas políticas, acarretando em algumas lacunas entre o discurso e a prática de alguns governos.

Este novo contexto de ascensão das esquerdas na América Latina vem promovendo a rediscussão do papel do Estado e democratização, ora mais com mais intensidade, ora não, das sociedades. Espero que seja o início de um longo e perene período.