Não resta dúvida que nos deparamos, na política brasileira com um novo fenômeno: o lulismo. Poderíamos aqui nos alongar sobre os vários aspectos sócio-políticos que tornam algumas personalidades bem maiores que alguns sujeitos coletivos, como os partidos políticos. No entanto, chamo atenção para dois aspectos:
O primeiro é o que presidente Lula, diferente do Getúlio Vargas, por exemplo, é oriundo das classes populares e sua projeção como líder político nacional só é possível graças a algum grau de amadurecimento da classe trabalhadora. O presidente Lula consegue relacionar-se com demandas não apenas econômicas, mas políticas, dos de baixo, como dizia Florestan Fernandes. Sim, para espanto de acadêmicos de classe média, existe um mundo e um povo para além do que eles pensam.
O segundo aspecto, e ainda vendo as coisas como são, é que o lulismo muda a correlação de forças na política nacional. Como não existe um FHCismo, a Globo, Veja, Folha e demais, comportam-se todo como um partido político já que o PFL precisou até mudar de nome e o PSDB está com a mãos na cabeça com a sucessão presidencial.
No entanto, certamente não interessa à esquerda depender de uma personalidade. O PT é como uma síntese da esquerda brasileira que contém desde os revolucionários trotskistas de “O Trabalho” até mesmo os social-liberais como o Palocci (acho que no caso do Palocci é neoliberal mesmo). Então, partidos como PCdoB, PSB, PDT não estão à esquerda do PT na prática nem na teoria. PCO e PSTU não conseguem aglutinar mais do que já têm.
O PSOL é um capítulo à parte, pois nasceu com os mesmo problemas que o PT demorou 20 anos para adquirir: refém do calendário eleitoral, refém de personalidades e distante da base social, a depender das eleições 2010 perde ainda mais importância.
Dito isto, cabe ao petismo disputar para si os lulistas. Por outros dois motivos: o primeiro é que o lulismo vive um paradoxo: para ser vitorioso em 2010 não se sustentará em uma personalidade, mas em um projeto, do qual falo mais à frente. O segundo é que a burguesia nacional não está nem aí para PSOL, PSTU ou PCO, mas, quer derrotar historicamente o PT. A base social do lulismo, mais ampla que a do PT, deve ser disputada pelo partido.
Assim, é certo que em 2010 a eleição será plebiscitária, entre neoliberalismo e neodesenvolvimentismo. Entendemos neodesenvolvimentismo como o conjunto de políticas de governos pos-neoliberal que agrega a agenda de intervenção do Estado na economia, com ampliação das políticas sociais, diferente do neoliberalismo que apregoa a tese do Estado Mínimo. Aqui, está claro que neodesenvolvimentismo não é necessariamente de esquerda, mas neoliberalismo está sim à direita, pressupondo que o mercado resolverá problemas sociais.
Cabe ao campo democrático e popular (partidos e movimentos sociais) derrotar a direita em 2010. Imaginemos o que representa o retorno do PSDB-DEM ao governo federal? Perguntemos ao Evo Morales (Bolívia), Rafael Correa (Equador) e Hugo Chavez (Venezuela) a importância da eleição da Dilma Rousseff. Porém, cumpre avançarmos nesta polarização e apresentarmos à necessidade de construção de uma nova ordem social diferente da capitalista.