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quarta-feira, 31 de março de 2010

Renato Manfredini Júnior me deixou conservador

No último dia 27 de março Renato Russo faria 50 anos se estivesse vivo. Não sou crítico musical e por isso não tentarei aqui fazer uma análise sobre sua obra, embora possa tentar algum dia.

Conheci a Legião Urbana quando cursava a 5ª série do fundamental, junto com colegas, hoje amigos, como Genildo Vasconcelos, Michel e Alex Lucena, todos à época aprendendo a tocar violão (o que, diferente deles, não sei até hoje). Folheávamos revistinhas com cifras da editora Escala e experimentávamos cada letra. Falando apenas por mim, aquelas músicas marcavam e marcam bons momentos, como, de certa maneira, ajudaram na construção de uma identidade, seja estética ou política.

Lembro perfeitamente de falar de algumas canções da Legião Urbana em sala de aula, o que unia entretenimento com informação. Para alguns a obra da Legião Urbana e do Renato Russo é simplesmente “uma fase” por qual todos, com mais de 25 anos passaram. Se isto quer dizer que conseguiram encontrar algo melhor que esta fase, parabéns. Eu não consegui.

Não me contento com frases de efeito, com chavões, com rimas pobres, com falta de conteúdo e, deste modo, tenho muita dificuldade de encontrar a mesma qualidade, presente na obra do Renato Russo, na cena musical contemporânea. Por isso, me sinto conservador, musicalmente falando. Ter conhecido a música da Legião Urbana e do Renato Russo me condenou a gostar do que é bom e, cá entre nós, sou muito feliz assim!

domingo, 28 de março de 2010

Dilma ou Serra é tudo igual?

26/03/2010
por Emir Sader, no seu blog


A candidatura da Marina, as do Psol, do PSTU, do PCB e outras eventuais do mesmo campo, têm algo em comum: tentar caracterizar que o PT e o PSDB seriam variações da mesma alternativa. Daí deduzem a necessidade de outra candidatura, buscando romper o que consideram uma falsa alternativa. Daí também, implicitamente, a posição de abstenção ou voto em um segundo turno em que se enfrentassem Dilma a Serra.
Essa tentativa de igualização das duas candidaturas é essencial para que se tente aparecer como superação do que seria uma falsa dualidade e aponta, entre outras coisas, para um voto branco em um eventual segundo turno entre Dilma e Serra, de forma coerente com essa análise. Foi o que aconteceu no segundo turno entre Lula e Alckmin.
Para nos darmos conta do absurdo dessa posição, basta fazer o exercício de imaginar o que teria sido do Brasil com quatro anos de mandato de Alckmin no lugar de Lula – incluindo o enfrentamento da crise internacional. Não se conhece nenhum balanço autocrítico dos setores de esquerda, o que supõe que a mantêm, agora com o agregado de Marina, que em 2006, ainda ministra do governo, fez campanha ativamente, no primeiro e no segundo turno, o que faz pensar que quando ocupava aquele cargo, sua posição era uma, quanto teve que deixar o governo, mudou de avaliacao sobre o governo Lula e também sobre o caráter do bloco tucano-demista, haja vista suas fraternais relações com estes atualmente. (Fazendo temer até mesmo que os apóie, expressa ou veladamente no segundo turno.)
A incompreensão das diferenças entre as candidaturas da Dilma e do Serra decorre da incompreensão da realidade brasileira atual, o que permite esse e outros equívocos. Considerar que o bloco tucano-demista é similar ao bloco governista e que um governo da Dilma ou do Serra seriam similares para o Brasil corresponde a não dar valor à política internacional do governo atual, às políticas sociais, ao papel do Estado, à inserção internacional do Brasil – entre outros tantos temas.
Quem não sabe localizar onde está a direita, corre o grave risco de se aliar a ela. Um aliado moderado – um governo de centro-esquerda – é radicalmente diferente de um inimigo. Ao contrário da avaliação dos setores radicais que deixaram o PT, o governo mudou e mudou para melhor, desde que Dilma Rousseff substituiu Palocci como ministro coordenador do governo. Quem acreditou que o governo estava em disputa e que era possível um resgate seu pela esquerda, acertou, enquanto que os que tiveram uma avaliação puramente moral, acreditando que o governo tinha “mordido a maçã” do pecado da traição, caminhando para ser cada vez pior, erraram, se isolaram e desapareceram do campo político, lutando agora apenas por uma sobrevivência mínima no plano parlamentar.
Considerar que um governo da Dilma ou do Serra seriam a mesma coisa – assim como consideraram que o Brasil com Lula, nestes quatro anos, é o mesmo que teria sido com 4 anos de governo de Alckmin – é não valorizar o que significa a prioridade da integração regional e das alianças com o Sul do mundo, em contraste com os Tratados de Livre Comércio – a que o governo de FHC levava o Brasil – e com as alianças prioritárias com os países do centro do capitalismo, objetivo dos tucanos.
É não levar em conta as diferenças de enfrentamento da crise do governo FHC – de que Serra foi ministro nos dois mandatos – e a forma de enfrentá-la do governo Lula, com um papel ativo do Estado, com a diminuição e não o aumento da taxa de juros, com os aumentos salariais acima da inflação, com a rápida recuperação do nível do emprego, com a manutenção das políticas sociais.
É não considerar as diferenças substanciais entre o Banco do Brasil comprar a Nossa Caixa, mantendo-a como banco público, evitando que um banco paulista mais fosse privatizado pelos tucanos – o Banespa foi vendido a um banco espanhol e a Nossa Caixa teria destino similar, não fosse o atuação do BB.
Esses e outros aspectos ajudam a diferenciar e a projetar governos muito distintos no futuro – veja-se a equipe econômica do Serra, para se ter idéia, além dos ministérios que entregaria para o DEM.
Quando uma força de esquerda se equivoca sobre a polarização do campo político, querendo desconhecê-la, conforme seus desejos subjetivos, se torna intranscendente, não acumula capacidade de intervenção política. E, pior, a ação que logra obter, pode perfeitamente favorecer a direita, seja de forma explícita ou implícita.
A incapacidade de compreender a polarização política no Brasil de hoje entre dois blocos de forças claramente diferenciados inviabiliza uma política de construção de uma frente ampla de esquerda, com o sectarismo fazendo com que nem sequer entre si os grupos mais radicais da esquerda consigam coligar-se.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Qualquer semelhança não é mera coincidência

Manhã ensolarada de março de 2010, 9h30m, dois amigos se encontram no interior de um ônibus urbano em João Pessoa:

- Olá, Fulano! Quanto tempo, cara!

- Diz Sicrano! Mermão, doido, muito tempo mesmo!

Sicrano, animado com aquele reencontro, puxa assunto.

- E aí, Fulano, você já se formou?

- Merrmão, ainda não, sabe comé né?

- Muitas greves, eu imagino...

- Nada, faz tempo que não tem greve, o lance é que não sou eu quem me navega, quem me navega é mar, hahahahaha.

Sicrano responde com protocolar sorriso amarelo.

- Sei, hehe.

- Você cursa o que mesmo? Pergunta Sicrano.

- Ciências Sociais.

- Hã? Serviço Social?

- Não doido, Ciências Sociais – responde Fulano com um tom impaciente.

- E Ciências Sociais trabalha com o que?

- Bicho, a categoria trabalho não responde mais às nossas inquietações, ta sacando?

Não, Sicrano não estava “sacando”. Porém, não desistiu de saber mais sobre o amigo e seu curso de graduação.

- E o que você estuda?

- Cara, a realidade, ta sacando? A realidade!

Sim, ele tinha alguma noção do que era a realidade e,aproveitando a presença de seu culto amigo, quis aprender um pouco mais.

- E o que você está achando aí desse tal de aquecimento global de que tanto se fala na televisão?

- Sicrano, véio, numa boa: tu acha que cientista social tem tempo de ficar vendo televisão?

Explicitamente frustrado com a resposta do amigo, Sicrano faz mais uma tentativa.

E a política esse ano, o que tu diz?

- Brother, eu não curto muito isso não. Acho muito limitador esse lance de esquerda e direita...é tudo ladrão mesmo, né não?

Silêncio sepulcral entre ambos. Sicrano percebia a dificuldade em conversar com seu amigo. Alguns minutos depois, não resiste e tenta, mais uma vez, elucidar sua dúvida.

- Fulano, mas Ciências Sociais é mesmo o que?

- Cara, não dá pra prender a realidade em conceitos, ta ligado?

-Mas, é que...

- Sicrano, massa te ver...vou descer na próxima parada, tô atrasado pra caramba, minha aula começou às 8h.

terça-feira, 23 de março de 2010

As hipóteses de 2010, por Wladimir Pomar

Desenvolver empresas estatais, dar força econômica à pequena burguesia industrial e dos serviços, expandir a pequena burguesia agrícola, ampliar a força social dos trabalhadores assalariados das cidades e dos campos e estimular sua participação social e política, num contexto em que parte do governo rema contra esses esforços, e em que, em sua maioria, o aparato do Estado é contrário, não é uma missão fácil.

É verdade que, em alguns terrenos, o governo Lula poderia ser mais audacioso do que vem sendo. Ele poderia criar mecanismos governamentais mais eficazes para apoiar e estimular as micro e pequenas empresas industriais e de serviços. E poderia ser mais criativo no assentamento dos lavradores sem terra nos 90 milhões de hectares dos latifúndios improdutivos.

No entanto, isso não depende apenas dele. Depende, em grande medida, do PT, demais partidos socialistas, sindicatos e movimentos sociais democráticos e populares se voltarem com mais ênfase a organizar os trabalhadores e camadas populares em torno de seus interesses imediatos e de longo prazo. E depende de que essa organização da base social se movimente para pressionar a burguesia a dividir o espaço na sociedade, no governo e no Estado.

É essa pressão que pode fazer com que a harmonização de contrários, praticada pelo governo, funcione como política de acumulação de forças para contrabalançar-se à hegemonia das classes dominantes. Isto vai ser especialmente importante quando os contrários entrarem em rota de colisão na disputa entre seus interesses não-comuns. Será nesse momento que as teses de que o governo Lula tem hegemonia sobre as forças populares ou está sob o comando da grande burguesia sofrerão seu teste decisivo.

Até o momento, o governo Lula parece ter uma maioria política capaz de vencer as eleições de 2010 e manter o projeto de desenvolvimento e integração soberana na globalização capitalista. No entanto, a pauta do programa de críticas ao governo Lula, aparentemente pela esquerda, mostra que a disputa pode ser mais complexa do que parece.

O social-liberalismo tucano, que se esconde sob o manto de uma social-democracia envergonhada, sustenta que seu candidato, caso eleito, não vai retornar à privataria descarada nem à financeirização desbragada que marcou o governo FHC. Segundo porta-vozes não autorizados, Serra deve manter o mesmo projeto de Lula, apenas com modulação diferente. O elogio retardado de Serra a Lula e a tentativa de separar o governo Lula da candidata Dilma mostram que a oposição vai se pautar pela tentativa de não discutir a natureza dos programas de ambos.

Além disso, há um grande esforço intelectual, de mídia e de propaganda explícita para demonstrar que Dilma e Serra são muito parecidos, tendo a mesma visão de mundo. Há quem diga que, se houvesse uma reorganização política, ambos estariam no mesmo partido. Eles seriam a expressão de pessoas que não existiriam mais na política brasileira, gente compromissada com o Brasil e que poderia ser enquadrada no conceito inglês de servidor público.

O que não impede Serra de manobrar para destruir a candidata do PT pelas bordas, estimulando a candidatura Marina Silva, que num primeiro momento arrastou intelectuais católicos e progressistas – e possivelmente boa parte da esquerda que critica o governo Lula. Nem de que o saco de maldades de denúncias envolvendo figuras do PT já esteja com munição suficiente para alimentar a mídia marrom.

Paradoxalmente, a parte da esquerda que está servindo de massa divisionista de manobra para Serra não sabe se ainda é possível um projeto nacional popular no Brasil. Acredita que esse projeto teria sido derrotado, supostamente após ter sido descaracterizado pelo PT e pelo governo Lula, no poder. Nessas condições, embora afirme que a Consulta Popular é o único ator político que retoma o debate sobre um projeto de tal tipo, prefere apostar na promessa tucana, ou em seu derivativo Marina.

O que mostra o quanto há de gente que, mesmo diante da banda passando, não consegue enxergar os passistas, nem ouvir a música. E não sabe o que realmente está em jogo em 2010.

Wladimir Pomar é analista político e escritor

Fonte: http://pagina13.org.br/?p=1186

segunda-feira, 22 de março de 2010

Valter Pomar: Contra-ofensiva de direita na América Latina

Do Prensa Latina

Uma contra-ofensiva da direita põe em xeque o futuro da América Latina, essa é a tese do brasileiro Valter Pomar, dirigente do Partido dos Trabalhadores (PT), um reconhecido estudioso do tema. “Ninguém poderia predizer o desenlace deste conflito, o que ocorra dependerá de nós mesmos e o dilema está claro: ou vencemos ou deixamos de ser”, disse o político sul-americano em entrevista à Prensa Latina, durante a realização do 19º Seminário Internacional “Os Partidos e uma Nova Sociedade”, no México.

Na opinião de Pomar, o principal problema da região continua sendo sua relação com Estados Unidos, “uma potência disposta a recuperar a hegemonia em seu histórico quintal, os países latino-americanos, para lançar-se sobre o resto do mundo”.

Com a dissolução da União Soviética no início da década de 1990, o conjunto do movimento socialista entrou em uma etapa defensiva e impôs-se o unilateralismo estadunidense; uma realidade que em essência continua vigente, segundo opinou o analista.

A situação começou a mudar pela ascensão de governos de esquerda na América Latina e pela agudização da crise internacional; no entanto, nenhum destes acontecimentos conseguiu mudar a natureza do período em favor do imperialismo, segundo precisou o secretário de Relações Internacionais do PT.

Apesar da profundidade da crise mundial, em diferentes âmbitos, desde o econômico e financeiro até o energético, os grandes Estados capitalistas puderam evitar os transbordamentos político-sociais em seus territórios; isto, comentou, nos assinala o poderio de que falo.

Outra evidência radica na contra-ofensiva da direita latino-americana, alinhada com a Casa Branca, e “o único freio viável que a América Latina pode colocar nesses planos é a integração”, avaliou o especialista.

Nos últimos tempos, considerou, as forças de esquerda tiveram um rápido crescimento na área devido a processos endógenos associados à crise neoliberal, mas também não podemos desconhecer que os Estados Unidos durante estes anos centrou seu olhar nas guerras de conquista no Oriente Médio.

“Isso nos facilitou a vida, nos permitiu fazer uma acumulação rápida de forças contra o projeto imperialista; mas o palco tem mudado, ressurgem governos de direita e a administração norte-americana busca com afã minar a integração com vocação latino-americanista.”

Não tem lugar – agregou – uma reestruturação da direita apenas no continente americano; ocorre o mesmo dentro da Europa, onde as tendências dessa natureza tiveram um auge e também tratam de impedir o rumo independente e integracionista de nossa região.

Com a posse de Barack Obama, ao invés do que muitos pensaram, a Casa Branca confirmou o propósito de reconquistar sua hegemonia mundial, segundo defendeu então o novo mandatário – recordou o representante do PT.

“Esse propósito declarado torna-se mais urgente para Washington diante da gravidade da crise econômica internacional e nisto não podemos perder de vista que, para recuperar seu poderio, a potência do norte precisa primeiro restabelecer um papel em nossa região.”

O império, insistiu, não pode se lançar sozinho em seu plano de hegemonia unilateral no mundo, precisa da América Latina e do Caribe subordinados a sua política; daí a importância de não ceder nem um grão na acumulação de forças revolucionárias no interior de nossos países.

“Também não podemos retroceder no processo de integração que pela primeira vez se expressa no surgimento de uma organização autenticamente latino-americana e caribenha, sem os Estados Unidos e sem as antigas metrópoles européias”, afirmou.

A questão prática, advertiu, está em como conseguiremos acelerar a unidade e persistir no caminho das mudanças estruturais sem ir para além de nossa capacidade para sustentar politicamente os processos e acumular forças em escala regional na direção do socialismo.

“Os perigos são enormes; mas se mantivermos a atual correlação, a ingerência estadunidense será limitada; ainda que inevitável, dada a natureza do império e o apoio de alguns governos”, observou Pomar.

“Por isso é tão importante avançar com rapidez, mas sem cometer erros, na integração continental e ao mesmo tempo consolidar onde seja possível as políticas nacionais que implicam no desmantelamento do neoliberalismo e em uma melhor vida para a gente.”

“A América Latina está em uma encruzilhada: ou salva-se com o empenho de seus filhos, ou afunda-se subordinada ao império. E o que aconteça neste continente será decisivo para a emancipação dos demais povos no mundo”.

Fonte: http://pagina13.org.br/?p=1158

domingo, 21 de março de 2010

Alhos não são bugalhos

Generalizar o assunto Política é algo que é feito por má fé ou ignorância. Frases como “político é tudo igual” ou “o problema são esses políticos”, além de não dizerem muito, ocultam as seguintes questões: Os “políticos” não são uma entidade autônoma na vida do país, logo, expressam relações políticas realizadas com anuência, em maior ou menor medida, de todos/as; depois, a desvalorização da política aparece como um mecanismo de elitização da mesma, afastando os segmentos populares – aqueles que devem ser convencidos de que tudo isso é um nojo – do interesse por este tema.

O movimento político-militar de oficiais de baixa patente, conhecido por Tenentismo, ocorrido na década de 1920, aqui no Brasil, expressava uma rejeição ao poder político das oligarquias de então. Baseava-se na crença de que aqueles políticos não tinham amor pelo Brasil e propunham uma intervenção política, mas, sem “os políticos”. Um registro deve ser feito: havia alguma ligação entre os tenentistas e as classes populares naquele momento, uma vez que muitos tenentes ainda buscavam ascensão social.

No entanto, em 1964 os militares reeditam essa mesma “preocupação com os destinos da nação”, desta vez sem vínculo popular algum. O vínculo era com a moralista UDN, do Carlos Lacerda, representante na época de um público equivalente a este que lê a Veja hoje. Na verdade, o golpe de Estado dado em 1964 não é apenas militar, mas cívico-militar com um forte viés conservador.

O engraçado é que o discurso de um Carlos Lacerda poderia muito bem ser feito pela Heloísa Helena atualmente. Por isso, concordo com quem afirma que o PSOL é neo-udenista de esquerda. Todavia, a burguesia e seu apêndice intelectual, a classe média, não costuma terceirizar seus projetos e mantêm vivo o discurso de que “a política é suja” e eles são “a vassoura que vai limpar tudo”. Bingo para quem inclui na lista o Jânio Quadros! “Pobre povo pobre, deixem a política conosco e vejam Big Brother”, dizem seus discursos herméticos nos meios de comunicação de massa.

O comportamento do DEMo na crise política de 2005 é emblemática. Tentou “derrubar” o presidente Lula e não encontrou apoio social para tanto. O Jorge Bornhausen, presidente da sigla à época chegou a dizer que queria acabar com a “raça” do PT. Acabar com “raça” é uma vontade presente em todos os nazistas recalcados ou não. Importante: o DEM já foi PFL, que já foi PDS, que já foi ARENA (partido do governo militar) e que foi composto pelo mesmo pessoal da UDN, do Carlos Lacerda. É o mesmo partido do primeiro governador preso (por corrupção) no Brasil, aliás, o seu único governador, o José Roberto Arruda, do Distrito Federal. Pessoal bom para se falar em moralidade, não é?

Com a Política cada vez mais impopular e com a sociedade cada vez mais individualista e apática, flertamos perigosamente com saídas autoritárias. O mesmo bloco social que ajudou a derrubar as reformas de base o governo do presidente João Goulart está reoganizado, com o reforço da grande mídia. O desgaste, por parte da classe dominante, de suas próprias instituições políticas é caminho certo para alternativas bonapartistas. Não há democratização possível com o abandono da política e cabe aos setores mais avançados da sociedade essa boa e necessária politização.

sábado, 13 de março de 2010

Muito mais que duas esquerdas

Há, na grande imprensa e nos meios acadêmicos, a idéia de que existem duas esquerdas na América Latina. Uma seria radical, populista e ideológica e outra moderada, racional e responsável. Fica evidente o juízo de valor desta divisão que, entre outros, é defendida por Teodoro Petkoff, ex-comunista e atual opositor do governo de Hugo Chavez, na Venezuela. A CIA, em relatórios já publicados, apresenta a mesmíssima concepção quanto às esquerdas de nosso continente.

O sociólogo equatoriano Franklin Ramirez Gallegos, em seu artigo “Mucho más que dos izquierdas” combate esta dicotomia. Para ele, as esquerdas na América Latina apresentam uma heterogeneidade em suas trajetórias e composições. Existem, portanto, várias esquerdas na América Latina, cada uma com suas particularidades.

É fato que, pela primeira vez, partidos e coalizões de esquerda chegam aos governos nacionais, na América Latina, concomitantemente, em muitos países e pela via democrática, a partir dos anos 2000, inaugurando um período pós-neoliberal, mesmo que o neoliberalismo ainda seja hegemônico socialmente.

Para compreender cada contexto particular, ainda segundo Ramirez Gallegos, três aspectos devem ser observados: a) a trajetória dos partidos políticos de esquerda em cada país, se havia um sistema partidário consolidado ou se precisaram lutar pela democracia, b) o espaço ocupado e o papel desempenhado pelos movimentos sociais e suas capacidades de pautarem as suas demandas e c) a herança deixada pelo período neoliberal, o que influenciará na capacidade de implementação de algumas políticas, acarretando em algumas lacunas entre o discurso e a prática de alguns governos.

Este novo contexto de ascensão das esquerdas na América Latina vem promovendo a rediscussão do papel do Estado e democratização, ora mais com mais intensidade, ora não, das sociedades. Espero que seja o início de um longo e perene período.

Dez conselhos para os e as militantes da esquerda

Aos que já leram, vale à pena ler novamente. Aos que não leram ainda, aproveitem a leitura deste sempre atual texto do Frei Betto.

1. Mantenha viva a indignação.

Verifique periodicamente se você é mesmo de esquerda. Adote o critério de Norberto Bobbio: a direita considera a desigualdade social tão natural quanto a diferença entre o dia e a noite. A esquerda encara-a como uma aberração a ser erradicada.

Cuidado: você pode estar contaminado pelo vírus social-democrata, cujos principais sintomas são usar métodos de direita para obter conquistas de esquerda e, em caso de conflito, desagradar aos pequenos para não ficar mal com os grandes.

2. A cabeça pensa onde os pés pisam.

Não dá para ser de esquerda sem "sujar" os sapatos lá onde o povo vive, luta, sofre, alegra-se e celebra suas crenças e vitórias. Teoria sem prática é fazer o jogo da direita.

3. Não se envergonhe de acreditar no socialismo.

O escândalo da Inquisição não faz os cristãos abandonarem os valores e as propostas do Evangelho. Do mesmo modo, o fracasso do socialismo no Leste europeu não deve induzi-lo a descartar o socialismo do horizonte da história humana.

O capitalismo, vigente há 200 anos, fracassou para a maioria da população mundial. Hoje, somos 6 bilhões de habitantes. Segundo o Banco Mundial, 2,8 bilhões sobrevivem com menos de US$ 2 por dia. E 1,2 bilhão, com menos de US$ 1 por dia. A globalização da miséria só não é maior graças ao socialismo chinês que, malgrado seus erros, assegura alimentação, saúde e educação a 1,2 bilhão de pessoas.

4. Seja crítico sem perder a autocrítica.

Muitos militantes de esquerda mudam de lado quando começam a catar piolho em cabeça de alfinete. Preteridos do poder, tornam-se amargos e acusam os seus companheiros(as) de erros e vacilações. Como diz Jesus, vêem o cisco do olho do outro, mas não o camelo no próprio olho. Nem se engajam para melhorar as coisas. Ficam como meros espectadores e juízes e, aos poucos, são cooptados pelo sistema.

Autocrítica não é só admitir os próprios erros. É admitir ser criticado pelos(as) companheiros(as).

5. Saiba a diferença entre militante e "militonto".

"Militonto" é aquele que se gaba de estar em tudo, participar de todos os eventos e movimentos, atuar em todas as frentes. Sua linguagem é repleta de chavões e os efeitos de sua ação são superficiais.

O militante aprofunda seus vínculos com o povo, estuda, reflete, medita; qualifica-se numa determinada forma e área de atuação ou atividade, valoriza os vínculos orgânicos e os projetos comunitários.

6. Seja rigoroso na ética da militância.

A esquerda age por princípios. A direita, por interesses. Um militante de esquerda pode perder tudo - a liberdade, o emprego, a vida. Menos a moral. Ao desmoralizar-se, desmoraliza a causa que defende e encarna. Presta um inestimável serviço à direita.

Há pelegos disfarçados de militante de esquerda. É o sujeito que se engaja visando, em primeiro lugar, sua ascensão ao poder. Em nome de uma causa coletiva, busca primeiro seu interesse pessoal.

O verdadeiro militante - como Jesus, Gandhi, Che Guevara - é um servidor, disposto a dar a própria vida para que outros tenham vida. Não se sente humilhado por não estar no poder, ou orgulhoso ao estar. Ele não se confunde com a função que ocupa.

7. Alimente-se na tradição da esquerda.

É preciso oração para cultivar a fé, carinho para nutrir o amor do casal, "voltar às fontes" para manter acesa a mística da militância. Conheça a história da esquerda, leia (auto)biografias, como o "Diário do Che na Bolívia", e romances como "A Mãe", de Gorki, ou "As Vinhas de Ira", de Steinbeck.

8. Prefira o risco de errar com os pobres a ter a pretensão de acertar sem eles.

Conviver com os pobres não é fácil. Primeiro, há a tendência de idealizá-los. Depois, descobre-se que entre eles há os mesmos vícios encontrados nas demais classes sociais. Eles não são melhores nem piores que os demais seres humanos. A diferença é que são pobres, ou seja, pessoas privadas injusta e involuntariamente dos bens essenciais à vida digna. Por isso, estamos ao lado deles. Por uma questão de justiça.

Um militante de esquerda jamais negocia os direitos dos pobres e sabe aprender com eles.

9. Defenda sempre o oprimido, ainda que aparentemente ele não tenha razão.

São tantos os sofrimentos dos pobres do mundo que não se pode esperar deles atitudes que nem sempre aparecem na vida daqueles que tiveram uma educação refinada.

Em todos os setores da sociedade há corruptos e bandidos. A diferença é que, na elite, a corrupção se faz com a proteção da lei e os bandidos são defendidos por mecanismos econômicos sofisticados, que permitem que um especulador leve uma nação inteira à penúria.

A vida é o dom maior de Deus. A existência da pobreza clama aos céus. Não espere jamais ser compreendido por quem favorece a opressão dos pobres.

10. Faça da oração um antídoto contra a alienação.

Orar é deixar-se questionar pelo Espírito de Deus. Muitas vezes deixamos de rezar para não ouvir o apelo divino que exige a nossa conversão, isto é, a mudança de rumo na vida. Falamos como militantes e vivemos como burgueses, acomodados ou na cômoda posição de juízes de quem luta.

Orar é permitir que Deus subverta a nossa existência, ensinando-nos a amar assim como Jesus amava, libertadoramente.

Fonte: adital

Lulismo, petismo e eleições 2010

Não resta dúvida que nos deparamos, na política brasileira com um novo fenômeno: o lulismo. Poderíamos aqui nos alongar sobre os vários aspectos sócio-políticos que tornam algumas personalidades bem maiores que alguns sujeitos coletivos, como os partidos políticos. No entanto, chamo atenção para dois aspectos:

O primeiro é o que presidente Lula, diferente do Getúlio Vargas, por exemplo, é oriundo das classes populares e sua projeção como líder político nacional só é possível graças a algum grau de amadurecimento da classe trabalhadora. O presidente Lula consegue relacionar-se com demandas não apenas econômicas, mas políticas, dos de baixo, como dizia Florestan Fernandes. Sim, para espanto de acadêmicos de classe média, existe um mundo e um povo para além do que eles pensam.

O segundo aspecto, e ainda vendo as coisas como são, é que o lulismo muda a correlação de forças na política nacional. Como não existe um FHCismo, a Globo, Veja, Folha e demais, comportam-se todo como um partido político já que o PFL precisou até mudar de nome e o PSDB está com a mãos na cabeça com a sucessão presidencial.

No entanto, certamente não interessa à esquerda depender de uma personalidade. O PT é como uma síntese da esquerda brasileira que contém desde os revolucionários trotskistas de “O Trabalho” até mesmo os social-liberais como o Palocci (acho que no caso do Palocci é neoliberal mesmo). Então, partidos como PCdoB, PSB, PDT não estão à esquerda do PT na prática nem na teoria. PCO e PSTU não conseguem aglutinar mais do que já têm.

O PSOL é um capítulo à parte, pois nasceu com os mesmo problemas que o PT demorou 20 anos para adquirir: refém do calendário eleitoral, refém de personalidades e distante da base social, a depender das eleições 2010 perde ainda mais importância.

Dito isto, cabe ao petismo disputar para si os lulistas. Por outros dois motivos: o primeiro é que o lulismo vive um paradoxo: para ser vitorioso em 2010 não se sustentará em uma personalidade, mas em um projeto, do qual falo mais à frente. O segundo é que a burguesia nacional não está nem aí para PSOL, PSTU ou PCO, mas, quer derrotar historicamente o PT. A base social do lulismo, mais ampla que a do PT, deve ser disputada pelo partido.

Assim, é certo que em 2010 a eleição será plebiscitária, entre neoliberalismo e neodesenvolvimentismo. Entendemos neodesenvolvimentismo como o conjunto de políticas de governos pos-neoliberal que agrega a agenda de intervenção do Estado na economia, com ampliação das políticas sociais, diferente do neoliberalismo que apregoa a tese do Estado Mínimo. Aqui, está claro que neodesenvolvimentismo não é necessariamente de esquerda, mas neoliberalismo está sim à direita, pressupondo que o mercado resolverá problemas sociais.

Cabe ao campo democrático e popular (partidos e movimentos sociais) derrotar a direita em 2010. Imaginemos o que representa o retorno do PSDB-DEM ao governo federal? Perguntemos ao Evo Morales (Bolívia), Rafael Correa (Equador) e Hugo Chavez (Venezuela) a importância da eleição da Dilma Rousseff. Porém, cumpre avançarmos nesta polarização e apresentarmos à necessidade de construção de uma nova ordem social diferente da capitalista.

quinta-feira, 11 de março de 2010

As vendas caindo...

E a diretoria da VEJA se reune.



É uma ficção, mas bem que poderia ser verdade.

Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=i3yUqFvlsT4

Democrático e Popular

Tomando parte na realidade realmente existente, faço uso do mundo virtual e, enfim, crio um blog.

Se o ponto de vista é sempre a vista de um ponto, pretendo aqui expressar a visão daqueles que acreditam que a construção de um novo mundo é possível e necessária.

Portanto, na perspectiva de que democracia tem a ver com povo e com a convicção de que é a organização popular que nos livrará de uma sociedade individualista, consumista e ecologicamente inviável, escreverei tudo o que considero Democrático e Popular. De igual modo, divulgarei textos e informações que seguem neste sentido.

Espero, assim, sempre contar com opiniões, indagações e comentários e, por isso, agradeço desde já quem por aqui aparecer.

Que possamos travar bons debates e fazer a boa disputa de concepções.