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terça-feira, 11 de maio de 2010

Semente do Mal

Nos anos 80 a Filmation Studios, sob encomenda da Masters of the Universe, criou um desenho animado que fez muito sucesso no Brasil: He-Man. Vivendo em Eternia, um planeta com características medievais, mas com avançadas tecnologias, He-Man, o alterego do príncipe Adam, representava o bem e o Esqueleto, representava o mal. Eram como água e oléo. Até que em um episódio aparece outro personagem chamado de Semente do Mal: um homem-planta que distribuía sementes daninhas aos agricultores de Eternia.

Quem está perto dos 30 anos ou já passou um pouquinho desta idade pôde cantar os versos do Trem da Alegria: “Eu tenho a força/ Sou invencível/ Vamos amigos/ Unidos venceremos a Semente do Mal”. Sim, houve uma única vez em toda a história em que He-Man e o Esqueleto estiveram juntos: para derrotar Semente do Mal.

Apenas a ascensão de uma força tão maligna, como o nazismo ou fascismo, pode justificar uma aliança entre forças tão antagônicas. E como no desenho animado, sempre de forma pontual, passageira e extremamente rara. Penso que alianças eleitorais entre forças tão distintas, em plena vigência das regras do jogo democrático, é uma nova Semente do Mal, de tão esdrúxulas que são.

Espera-se que a democracia seja fortalecida com o debate entre idéias, com a formação política, a clareza de projetos, a transparência de legítimos interesses. Alianças entre “esquerda” e “direita” apenas reforçam a idéia de que tudo é mais do mesmo, que não adianta acreditar na política e camuflam interesses particulares, colocando o privado acima do público. São daninhas para a democracia estas alianças porque, em longo prazo, levam à desmoralização da política e dão margem para saídas autoritárias.

No caso do Brasil há um detalhe em nível federal que é o que Sergio Abranches chamou de presidencialismo de coalizão. Temos um sistema presidencialista com elementos parlamentaristas. O presidencialismo venceu em 1993 em plebiscito. O fato é que o presidente da República não consegue governar sem maioria no Congresso e esse Congresso é marcado por forte presença conservadora.

Acredito que uma estratégia de esquerda deve criar situações em que não se fique refém desta necessidade de governabilidade. Deve sim buscar sua sustentação nas mobilizações e organizações populares. Precisamos criar uma nova institucionalidade que nos permita resolver problemas históricos, como a reforma agrária e monopólio dos meio de comunicação. Essa nova institucionalidade não será construida a partir de alianças com os mesmos que fizeram essa democracia sem povo no Brasil. A candidatura do PT deveria buscar fortalecer-se a partir do bloco democrático e popular. Portanto, a saída é sempre pela esquerda.

Nos Estados então, não há nenhuma justificativa para alianças espúrias, a não ser os projetos pessoais de novos Esqueletos, que criam novas Sementes do Mal. O Esqueleto era obcecado pelo poder e fazia de tudo para chegar ao Castelo de Grayskull.