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segunda-feira, 10 de maio de 2010

Na prática a teoria é outra

Quem de nós nunca teve o prazer de conversar com um esquerdista? Que fique claro que me refiro aos descendentes intelectuais daquele pessoal sobre quem Lênin escreveu no ensaio “esquerdismo: doença infantil do comunismo” em 1920. O desvio ideológico à esquerda acontece quando simplesmente se ignora completamente a direita.

O termo “esquerda” pode confundir mais do que explicar, sendo hoje um grande “guarda-chuva”. Porém, podemos partir do pressuposto que a esquerda não aceita a desigualdade social e por isso busca a justiça social. Essa definição não é minha, sim do Atílio Boron em “Gobiernos progresistas en debate”. Outro critério para entender o que é esquerda, também apresentado por Boron, é a observação do comportamento da direita. O governo do presidente Chávez, por exemplo, encontra dificuldade para ser conceituado como sendo de esquerda a partir das categorias de análise da tradição marxista, mas combate as injustiças sociais e unifica toda a direita contra ele. Logo, de acordo com esses critérios, é de esquerda.

Assim, um fator fundamental na análise de conjuntura é a correlação de forças na luta de classes, como ela se apresenta, que armas são utilizadas e quais os sujeitos sociais mais mobilizados. Os nossos atuais esquerdistas adoram radicalizar no discurso, entretanto ignoram completamente, muitas das vezes, esses elementos. Nem vou me referir às suas práticas, repletas de vícios que dizem combater: cupulismo, personalismo, autoritarismo, distanciamento das bases, etc.

O movimento estudantil universitário é um capítulo à parte para os esquerdistas. Muitos parecem ignorar o mundo que há para além das cercas das universidades. Alguém pode ter a impressão de que é classe média brincando de “maio de 68”, se sentindo charmosamente revolucionária. Proletários de todo o mundo, desconfiai da classe média!

Então quem puder, favor avisar aos esquerdistas o seguinte: as mesmas forças sociais que apoiaram o golpe de Estado cívio-militar em 1964 ainda têm muita força atualmente. Importantes espaços de força política atualmente se encontram nas mãos dessas mesmas forças, como o governo do Estado de São (segundo maior orçamento do país, ficando atrás apenas da própria União), o Congresso Nacional e sua capacidade de trancar a agenda política do executivo, o Judiciário, uma escandalosa aristocracia militante. Falta ainda contabilizar a grande mídia que faz o papel de porta voz da direita. Quer saber quem é a esquerda? A Veja nem tem dúvidas!

Assim como Narciso, o esquerdista acha feio tudo o que não é espelho. Se a realidade contradiz a sua teoria, então a realidade está errada! A única organização de esquerda coerente é a dele, a crise mundial, apatia e acomodação da classe trabalhadora e até o aquecimento global ocorrem porque o mundo ousa em não ouvi-lo.