Mesmo estando aparentemente enfraquecido, depois da cassação do ex-governador Cássio Cunha Lima por abuso de poder econômico, o PSDB/DEM conseguiu derrotar a base aliada do governo Lula, na Paraíba. A eleição de Ricardo Coutinho (PSB) não é uma vitória de seu partido, que não conseguiu eleger sequer um deputado federal. A sua vitória no segundo turno se deve ao seu crescimento nos pequenos municípios e ao acachapante resultado em Campina Grande, onde José Serra foi o vencedor. Segundo o próprio Ricardo Coutinho, sem a aliança com o PSDB ele não poderia ser governador. O candidato do PSB foi o candidato de José Serra no Estado.
Por outro lado, a aliança do PT com o PMDB foi um movimento correto. O PT não saiu de onde estava desde o segundo turno de 2002, quem saiu foi o PSB. A prioridade do PT na Paraíba era o fortalecimento da campanha da companheira Dilma Rousseff e o enfraquecimento dos neoliberais do PSDB/DEM, os principais adversários de nosso projeto nacional. Pragmaticamente, o PSDB/DEM percebeu que a melhor maneira de derrotar a base aliada do presidente Lula seria causando uma divisão em seu meio. Foram seis desastrosos anos de governo de Cássio Cunha Lima (PSDB) nos quais a Paraíba perdeu recursos do Prodetur por falta de elaboração de projeto, no quais os 12% de investimento na saúde não eram observados e nos quais os servidores precisavam contrair empréstimo num banco privado para receberem seus salários, entre outras coisas. Some-se a isto o desgaste de ter sido cassado no meio de seu segundo mandato. Estando a base do governo Lula unificada, certamente, o PSDB/DEM amargaria mais algum tempo oposição.
Dividindo a base de apoio do governo Lula trazendo o PSB para perto de si, o PSDB/DEM ganhou um discurso progressista, confundiu o eleitorado no que se refere à polarização que existe em nível nacional e evitou a comparação com o período em que estiveram governando o Estado. Com isso, ao invés de olhar para os seis anos inglórios do governo de Cássio Cunha Lima, a Paraíba olhou para os seis anos de Ricardo Coutinho frente à prefeitura de João Pessoa, gestão que contou com o apoio do PMDB e PT e que não seria possível sem o apoio do governo do presidente Lula.
Toda a trajetória de esquerda do candidato Ricardo Coutinho esteve a serviço das candidaturas de Efraim Morais (DEM) e Cássio Cunha Lima (PSDB), que se eleitos senadores estariam fazendo oposição ao PT e ao próprio PSB. O mais importante para Cássio, além de derrotar José Maranhão (PMDB), foi ter retirado de Ricardo Coutinho qualquer traço de autonomia e renovação. Quando não precisarem mais terceirizar seu projeto de poder, o PSDB/DEM terá como desgastar até a inviabilidade quem poderia ser a mais destacada liderança política do Estado.
Neste cenário o PT tem diante de si três tarefas. A primeira é saber assumir a condição de oposição, porque foi assim que saiu das urnas. Onde estiver PSDB/DEM, não pode estar o PT. Deve evitar o casuísmo e adesismos a cargos que lançaria o partido a uma situação de descrédito junto à sua base eleitoral. Ademais, ganhará politicamente quem tiver condições de manter coerência e é uma oposição coerente quem se tornará a referência política em futuras crises provocadas por “cascas de bananas” e “fogo amigo” no bloco PSB/DEM/PSDB.
A segunda tarefa é saber fazer respeitar-se e, para tanto, precisa fazer respeitar o seu estatuto. O PT tinha lado definido, estava na chapa majoritária com o PMDB e é inaceitável que petistas tenham feita campanha contra o partido, junto com o PSDB/DEM. Qualquer filiado ao PT precisa respeitar as deliberações do partido e, caso os escandalosos casos de infidelidade partidária passem incólume, estão comprometidas todas e quaisquer decisões partidárias futuras.
A terceira e última tarefa consiste em preparar-se para o lançamento de futuras candidaturas majoritárias. O PT não pode abrir mão de lançar candidatura à prefeitura de João Pessoa, em 2012, por exemplo. Para tanto, precisa se aproximar e valorizar sua militância e os movimentos sociais que dialogam com nosso projeto. O PT é o partido que mais dispõe de condições para identificar e apontar soluções para os para os problemas mais imediatos enfrentados pela população, seja por anos de experiência do modo petista de governar, seja por sua capacidade de aglutinar massa crítica e, porque, afinal de contas, é o partido que preside o país. Precisa se colocar como real alternativa política no Estado.