Páginas

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Breve análise sobre as eleições 2010 na Paraíba

Terminada a eleição para governo da Paraíba, vencida por Ricardo Coutinho, do bloco PSB/DEM/PSDB, duas afirmações podem ser feitas. A primeira, é que no primeiro turno, a coligação do governador José Maranhão (PMDB/PT/PCdoB), na frente em todas as pesquisas com mais de 50% das intenções de voto, perdeu a eleição para si mesma. A segunda, é que o grande vencedor deste pleito é o PSDB, na pessoa do ex-governador Cássio Cunha Lima.

O governo de José Maranhão, mesmo que reduzido pela metade, já que assumiu apenas em fevereiro de 2009, quando Cássio Cunha Lima é cassado por abuso do poder econômico, não conseguiu diferenciar-se do período 1995-2002 quando governou de acordo com a agenda política de Fernando Henrique Cardoso. O discurso de que o PMDB já tinha tido muito tempo e dizia que faria agora o que não fez em oito anos anteriores teve, então, razoável repercussão.

Ainda em 2002, o PMDB local rompe com o nacional e declara apoio a candidatura do presidente Lula. Quando o PSDB/DEM assumiu o governo em 2002, a Paraíba representava 28% do PIB do Nordeste e, em 2009, ao serem retirados do governo pela Justiça Eleitoral, o Estado tinha regredido para 21% do PIB da região. O cenário era favorável para um crescimento eleitoral do PMDB local pela esquerda, sendo a candidatura do bloco de apoio do presidente Lula, empurrando para a direita a candidatura de Ricardo Coutinho, porém, não foi o que aconteceu.

O terceiro governo de José Maranhão, agora com o PT na vice-governadoria, não foi além da lógica do “governo de engenharia”, buscando ser caracterizado como um governo de obras de infraestrutura. Certamente, são ações importantes, entretanto, a busca de melhoria dos índices sociais, colocando o desenvolvimento humano como elemento central, não se verificou. As propostas de grandes investimentos não foram acompanhadas com iniciativas de fortalecimento da microeconomia que, na Paraíba, gera cerca de 80% dos empregos formais, segundo dados recentes do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, Caged.

O debate sobre segurança pública, por exemplo, acontecia tendo como parâmetro o aumento do poder de repressão da polícia e não enfocava a redução das desigualdades sociais. A área de educação, muito caro ao PT e aos demais partidos de esquerda, ficou extremamente aquém do que se espera de um governo apoiado pelo presidente Lula. A Paraíba conta com 23% de sua população em estado de analfabetismo e não houve nenhuma tentativa de superar essa chaga.

Ao não trazer para si a agenda de desenvolvimento social, o governo do PMDB limitou e reduziu a possibilidade de defesa por parte da militância de esquerda que o apoiava e deixou um espaço a ser ocupado pela candidatura do PSB. O PSB terminou o pleito com 53% dos votos válidos, mas, não conseguiu eleger nenhum deputado federal e apenas 3, entre 36, deputados estaduais. Como a vitória de um partido não eleva seu peso político nas representações legislativas nas mesmas eleições? Simples! Porque o eleitorado não votou no PSB, votou no candidato de Cássio Cunha Lima, do PSDB. Nas palavras do próprio Ricardo Coutinho, sem a aliança com o PSDB ele não poderia se tornar governador. Cássio Cunha Lima foi o coordenador da campanha de Ricardo Coutinho no segundo turno.

No primeiro turno, a campanha do PMDB usou salto 15, entrou no clima do já ganhou. José Maranhão perdeu em cidades governadas por aliados, como em Patos, Cajazeiras e o mais grave, Campina Grande. No segundo turno, a campanha despolitizou-se ainda mais, marcada por preconceitos religiosos e ampliação, pela direita, de seu arco de alianças.

A diferença entre os dois candidatos foi de um pouco mais de 8 mil votos no primeiro turno. Em João Pessoa, Ricardo perdeu 15 mil votos no segundo turno, mas, virou em mais de 100 cidades pequenas onde José Maranhão tinha sido vitorioso em 03 de outubro, trabalho realizado por Cássio Cunha Lima, na ausência de José Maranhão que passou a priorizar os grandes centros.

O PT tem sua parcela de culpa. Primeiro ao não se impor na agenda do governo. O desempenho da esquerda no governo do PMDB seria fundamental para isolar na direita a candidatura do PSDB/DEM, aproximando o governo do Estado à experiência exitosa do governo federal. No processo eleitoral em si, é débito do PT a ausência de Lula e Dilma na Paraíba, que talvez tivessem alterado os rumos da eleição já no primeiro turno. Ainda assim, o partido mostrou força, aumentando a sua bancada na Assembléia Legislativa, com uma militância aguerrida que evitou o crescimento do PSB/DEM/PSDB em alguns setores mais politizados e conseguiu diminuir a rejeição ao PMDB.