Você se lembra do julgamento de Alexandre Nardoni e de Ana Carolina Jatobá? O julgamento durou cinco dias e terminou na madrugada do último sábado, portanto, nem faz ainda uma semana. Perguntaram-me que opinião tinha sobre o “caso Isabella”. Respondi que não era jurista, que não conhecia a família e que a vida privada deles precisaria ser respeitada, ou seja, não era da minha conta.
Não quero destilar insensibilidade aqui, mas me opor ao espetáculo que foi montado com o julgamento e a dor de uma família e que mobilizou milhões de pessoas. Durante cinco dias surgiram no Brasil milhares de doutores
Mas, se esse tema era tão importante para quase todo o país, por qual motivo não mais ouvimos falar a respeito? Será por que agora temos a páscoa, coelhinhos e ovos de chocolate para nos preocupar? Além de mobilizar toda a “opinião pública nacional” esse episódio aumentou a audiência, e conseqüentemente os lucros, dos chatos telejornais. A TV Globo, por exemplo, levou alguns “renomados” juristas para comentarem o caso e explicá-lo para a “plebe ignara”.
Do mesmo modo que já esqueceram o “caso João Hélio”, parece que este já foi esquecido. O triste é que, se fossem crianças moradoras de periferias, estudantes de escolas públicas, freqüentadores de lan houses, nem sequer seriam mencionados. Pobre ter morte violenta é coisa normal, não é? O Faustão nem comentaria em seu ridículo programa. Reproduzimos tudo isso acriticamente quando nos sentimos importantes versando a respeito em nossas salas de estar.
E cá estamos presos em um eterno presente, alheios ao passado e ao futuro, nos afirmando por meio do consumo, mesmo que seja o consumo de uma dor particular que a mídia transforma
“‘É sangue mesmo, não é mertiolate’/ E todos querem ver/ E comentar a novidade/ ‘É tão emocionante um acidente de verdade’/ Estão todos satisfeitos com o sucesso do desastre: vai passar na televisão”. Renato Russo.