Páginas

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Dilema de Gay

Em seu livro "Capitalismo e Social-Democracia", Adam Przeworski apresenta o "Dilema de Gay". Trata-se de Peter Gay, para quem as esquerdas precisaram escolher no decorrer da história entre romper com a democracia para construir uma outra sociedade ou adotar o regime democrático da sociedade burguesa, correrendo o risco de ficarem presas a ela, perdendo força de mobilização e legitimando o status quo da burguesia.

O pensamento marxista viu surgir diferentes visões no que se refere à relação entre as esquerdas e o Estado burguês. Seja como um necessário processo, contido em um processo mais amplo de disputa de hegemonia, ou mesmo como resultado da correlação da luta de classes realmente existente. Aliás, quanto mais acirrada é a luta de classes, mais forte fica a relativa autonomia da esfera política, de acordo com Nicos Poulantzas.

O fato é que, importa para as camadas mais empobrecidas da população, quem estará governando o Estado. Conquista, manutenção e ampliação quantitativa e qualitativa de políticas públicas de educação, saúde, cultura, habitação, direitos trabalhistas, transportes coletivos, etc, são geralmente conflitantes com os interesses da classes dominantes e extremamente relevantes para a classe trabalhadora. Na verdade, devem ser frutos de demandas causadas pela organização popular. Fora isto, é a tese do "quanto pior melhor" da classe média brincado de ser militante. Por isso acho que o Dilema de Gay, se não estiver extemporâneo, até segunda ordem está plenamente resolvido.