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sábado, 17 de março de 2012

2012: mentira e falsa razão no PT de João Pessoa para uma aliança sem história e sem futuro


Em quase todo o Brasil, o Partido dos Trabalhadores vivenciou na década de 2000, junto com toda a esquerda na América Latina, um substancial crescimento social, configurando-se como o partido de preferência da população brasileira e institucional, ganhando a terceira eleição para Presidência da República.


Durante este mesmo período, no entanto, PT em João Pessoa, ao contrário do que aconteceu nacional, perdeu peso e importância na cidade. Faz quase uma década que o Partido dos trabalhadores não lança uma candidatura própria na capital do Estado e, em não se presentando para o conjunto da sociedade, deixa de formular projeto de governo para a cidade, perde capacidade de diálogo com sua base social e condição de referência no campo da esquerda política.

No que depender dos setores do partido ligados ao deputado federal Luiz Couto, que em 2010 atuou contra o PT e em favor da coligação PSB-DEM-PSDB, o partido continuará minguando na condição de coadjuvante na vida política de João Pessoa. Esses setores levemente majoritários em João Pessoa advogam a tese de que o PT deve continuar atrelado ao projeto do PSB uma vez que essa aliança "tem história e tem futuro".

Dizer que o PT e o PSB têm uma história de alianças em João Pessoa, e mesmo na Paraíba, é mentira! Senão vejamos:

No ano 2000, o PT lançou Luiz Couto candidato na disputa pela prefeitura da capital. Naquele momento, apenas o PCdoB acompanhou o PT, já o PSB fez parte da ampla coligação que reelegeu no primeiro turno o então prefeito Cícero Lucena, à época no PMDB.



Em 2002, o PT lançou o então deputado federal Avenzoar Arruda ao governo do Estado. Chegamos próximos aos 13% dos votos em todo o Estado e em João Pessoa alcançamos 27%. Em nossa coligação estavam PL, PMN, PSC e o ainda aliado histórico, PCdoB.



Em seguida, nas eleições municipais de 2004, O PT lançou, em coligação com o PSDC e PAN, Avenzoar Arruda a prefeitura da capital. O isolamento do PT nesta coligação refletiu o isolamento social da candidatura. Terminamos o pleito com 11.003 votos que significaram 3,29% do total.

É eleito em primeiro turno o então deputado estadual Ricardo Coutinho, que migrou do PT para o PSB que fez aliança com o PPS, PCB, o pragmático PCdoB e com o PMDB, que naquela oportunidade não era chamado pelos ricardistas de “partido do atraso”.



A primeira vez que o PT e o PSB, durante a década de 2000, se encontraram na mesma coligação foi no ano de 2006. Encontrarem-se por conta do apoio que derem ao PMDB. O PT, apoiando o então senador José Maranhão de acordo com o projeto de reeleição do presidente Lula. O PSB, devolvendo o apoio que recebeu nas eleições anteriores. A coligação liderada pelo PMDB tinha além do PT e PSB, o PCdoB e o PRB.



A segunda e última vez que o PT e o PSB se encontraram na mesma aliança foi no ano de 2008. Naquele ano, o prefeito Ricardo Coutinho disputou sua reeleição em uma ampla coligação que apresentava PSB, PRP,PSC, PPS, PRTB, PV, PT, PSL, PTC, PMDB, PCdoB, PTdoB, PRB, PTB e PCB.



O detalhe que chama atenção neste momento é que o vice-prefeito nesta coligação de 15 partidos é também do PSB, o atual prefeito Luciano Agra. O PT não teve força para compor a chapa majoritária e assumiu o papel de simples coadjuvante em João Pessoa.



Finalmente, nas últimas eleições de 2010, o PT permaneceu no mesmo bloco político que se formou em 2006. O PSB afasta-se deste grupo e junto com o DEM, PPS e PSDB elegem Ricardo Coutinho governador.



Se a relação do PT com o PSB fosse tão umbilical como afirmam o deputado Luiz Couto e seus liderados, não seria plausível que o PSB abrisse mão de indicar uma ilustre desconhecida do conjunto da população para apoiar o nome do próprio deputado Luiz Couto? Não foi assim que o PT procedeu (erroneamente) ao abrir mão da prefeitura de Belo Horizonte para apoiar um nome do PSB em 2008?



Ou será que Ricardo Coutinho guardar rancor do processo de expulsão que sofreu no partido liderado por Luiz Couto? Já que os aliancista gostam tanto de história cabe aqui registrar que Luiz Couto e seus liderados tentaram expulsar Ricardo Coutinho do partido no início da década
de 2000 por infidelidade partidária, exatamente o fizeram em 2010. Se cabia a expulsão de Coutinho, não cabe a expulsão de Couto?



Na verdade, os que defendem que o PT continue na condição de coadjuvante querem uma aliança com o que chamamos de “ricardismo”. O ricardismo está além do PSB. O que prova isto é que, ao sair do PT em 2003, o chamado “Coletivo Ricardo Coutinho” dividiu-se entre PSB e PPS. Figura chave na articulação do projeto político do atual governador e seu fiel escudeiro desde o início dos anos 1990, o atual secretário de comunicação do Estado, Nonato Bandeira, é pré-candidato a prefeito da capital pelo PPS.



O ricardismo é forjado a partir da capacidade de liderança do vereador e depois deputado Ricardo Coutinho, junto a lideranças de movimentos sociais urbanos fazendo dos mandatos que exerceu nos Legislativos, municipal e estadual, canal de expressão dos anseios destes setores organizados.



Outra possibilidade para explicar a projeção do ricardismo é justamente a contraposição que Ricardo Coutinho fazia com sua prática política a uma visão de partido defendida pelos que hoje o apóiam dentro do PT. Ou seja, embora nunca tenha priorizado o PT e suas disputas, enquanto Ricardo Coutinho vinculava-se aos movimentos sociais, o partido foi aos poucos afastando-se dos mesmos e adotando cada vez mais uma postura que o resumia a uma legenda eleitoral.



Em 2004 a base social do PT acompanhou a candidatura de Ricardo Coutinho que conseguiu simbolizar naquele momento o desejo de mudança da população. Essa eleição provou ao PT que, mesmo para se resumir a disputas de eleições, o partido não pode igualar-se ao que combate, e que precisa manter sua vinculação com sua base social e suas demandas.



Importante insistir, a população acompanhou em 2004 a candidatura Ricardo Coutinho e o ricardismo, e não o PSB. O PT sobreviveu a saída de lideranças históricas, já o PSB na Paraíba tem seu crescimento vinculado a figura do atual governador e do fato de estarem a frente do poder executivo, municipal e depois estadual. Ou seja, sem Ricardo Coutinho e fora do governo não haveria PSB como força política na Paraíba.

Fica provado, portanto, que é mentira que PT e PSB, em João Pessoa, formam uma aliança de história. Uma mentira repetida mil vezes, continuará sendo uma mentira. O argumento de que seria o fortalecimento do campo democrático e popular também falta com a verdade, uma vez que o PDT sempre esteve, na última década, atrelado ao PSDB-DEM, inclusive em 2008 contra o PSB.



Resta, então, mostrar que há uma falsa razão na afirmação de que formam uma aliança de futuro. Na primeira gestão do ricardismo a frente da Prefeitura de João Pessoa, houve com ou sem cooptação, uma preocupação em pautar demandas históricas de movimentos sociais da cidade. Assim, surgiu a secretária de habitação, a coordenadoria de políticas para as mulheres e o orçamento democrático.



Todavia, em um segundo momento, um pouco antes de sua reeleição em 2008, o ricardismo operou guinadas à direita visando as eleições 2010. Neste momento, o ricardismo deixa de ser uma parcela da esquerda em João Pessoa para tornar-se algo semelhante ao que foi o “janismo” do ex-presidente Jânio Quadros.

O janismo foi a expressão das classes médias urbanas mobilizadas por um discurso moralista que se opunham aos políticos tradicionais. O ricardismo indica, desta forma, um atraso de meio século de nossa classe médias urbana na disputa com as antigas oligarquias políticas do Estado. Não à toa, o atual governador diz querer fazer a Paraíba crescer 40 anos em 4, lembrando o esforço do antigo presidente JK e seus 50 anos em 5.



Assim como o janismo, o ricardismo se expressa sempre na primeira pessoa do singular, faz discurso moralizador e afirma-se diferente pela honestidade; diz ser a renovação contra o atraso, dialoga pouco e mal com o parlamento e demais partidos políticos.

Ao reeleger-se em 2008, o atual governador escolheu seu secretário de planejamento para vice-prefeito. Não há diferença entre o ricardismo que está na prefeitura e o que está no governo do Estado. A diferença é que no governo do Estado a sua base de sustentação está à sua direita, limitando a sua capacidade modernizadora. A ascensão do PSB ao governo do Estado foi o suspiro do bloco PSDB-DEM para próximas batalhas.

O PSB, não apenas na Paraíba, aprofunda sua aproximação com o PSDB, e ao mesmo tempo em que disputa o espólio do lulismo imprime novo fôlego às políticas neoliberais, como a privatização do Hospital de Trauma em João Pessoa, quebra da autonomia financeira da UEPB, arrocho fiscal, judicialização e criminalização das greves, repressão aos movimentos sociais, etc.



Ao igualar-se a tudo que sempre combateu, o ricardismo mostra sinais de esgotamento e chega ao começo do fim de seus 10 anos gloriosos, iniciados em 2004. Ao invés de modernizar a Paraíba, está passando para a população a idéia de que no fim das contas todos os políticos são iguais, o que é extremamente maléfico para os que militam na esquerda. Isto para não falar dos diversos escândalos envolvendo a prefeitura de João Pessoa e o governo do Estado.



A João Pessoa e a Paraíba da qual falam os defensores da aliança PT-PSB é como o “fantástico mundo de Bobby”, só existe na imaginação. Se ganharem dia 18 de março, obrigam o PT a embarcarem num Titanic. É por isso que esta aliança não tem futuro. Qual a verdadeira razão para Luiz Couto e seus liderados lutarem tanto contra o PT? Eu não sei.



O PT tem um nome de viabilidade inquestionável. Luciano Cartaxo foi eleito deputado estadual com poucos mais de 24.000 votos, dos quais quase 18.000 só em João Pessoa; já exerceu 4 mandatos de vereador na cidade e hoje coloca-se a disposição da candidatura própria. Além disso, o PT de João Pessoa tem história e tem futuro.